Estudo observou 2.150 dos 5.570 chefes do Executivo municipal.
Prefeitos brasileiros estão abertos à influência de estudos acadêmicos? Caso estejam, esses trabalhos alteram suas crenças e ações?
Publicação recente do NBER, o National Bureau of Economic Research, dos EUA, ensaia respostas a essas questões —e pode-se até afirmar que, em tempos de terraplanismo, elas dão algum conforto à alma.
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Produzido por pesquisadores de três universidades americanas (Harvard, Colúmbia e a da Califórnia) e de um instituto (Innovations for Poverty Action), o estudo observou 2.150 dos 5.570 prefeitos brasileiros.
O que essa evidência científica indica é que nossos gestores não são refratários à evidência científica, ao contrário do que sugerem nossas evidências menos, digamos, científicas.
Foram feitos dois testes. Um deles buscou medir o interesse dos prefeitos por estudos sobre políticas para a primeira infância. Conclusão: eles “parecem valorizar evidências e mudar suas crenças de maneira relativamente sofisticada”.
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O segundo teste procurou saber se pesquisas que mostram a eficácia de enviar cartas aos contribuintes alteravam as ações dos prefeitos.
Após apresentar evidências aos políticos e acompanhar as prefeituras por dois anos, os pesquisadores afirmaram: “Quando os líderes brasileiros recebem informação sobre o impacto de uma política, eles modificam a linha de suas políticas”.
O estudo alerta, porém, que parece haver problema em fazer a informação circular e diz que é limitado, por aqui, o alcance de entidades que pesquisam políticas públicas.
Em adendo ao trabalho dos pesquisadores, vale lembrar que os prefeitos mais e mais vão negociar com gente que produz informação em escala imensa. Bom exemplo é o da área de mobilidade. O grosso dos dados sobre o uso de bicicletas e patinetes é produzido pelas próprias empresas, que têm natural interesse em influenciar os gestores. Os administradores públicos precisam como nunca de mais fontes confiáveis de pesquisa para poder decidir.
Postado originalmente no jornal Folha de São Paulo.
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