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“A empresa será mais bem-sucedida a medida em que a comunidade for mais desenvolvida e vice-versa”, afirma gerente geral do Instituto Votorantim

Nos últimos anos, cresceu a atenção às comunidades que vivem no entorno dos empreendimentos econômicos. Nesse sentido, o que as empresas buscam é mitigar as externalidades geradas pelas atividades econômicas e ampliar sua participação na vida das comunidades locais. Para tanto, cuidam de se articular com o poder público local e desenvolver parcerias que permitam compartilhar a gestão dos projetos sociais.

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Os dados apresentados no gráfico acima ilustram esse movimento. Nele se destaca a preocupação crescente do grupo em abrir canais permanentes de diálogo com as comunidades, como forma de melhorar o relacionamento e promover uma maior adequação das suas atividades às necessidades locais. Entre 2011 e 2016, o percentual de empresas que adotam a prática do diálogo permanente passou de 64% para 81%.

Para abordar a questão, o convidado do Bate-Bola dessa vez é Rafael Gioielli, gerente geral do Instituto Votorantim.

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#1  Quais os desafios sociais do Brasil e o impacto que causam nos negócios?

Rafael Giorelli: O Brasil tem muitos desafios sociais, mas destaco um que acredito ser fundamental entre os temas sociais estruturantes: a educação. Apesar de ter conseguido praticamente universalizar o ensino fundamental nas últimas décadas, o Estado ainda tem um desafio de qualidade muito grande. Boa parte dos alunos que concluem as etapas do ensino fundamental e médio possuem baixíssimo aproveitamento, a proficiência é muito pouca, e isso acaba gerando desafios na inserção profissional dessas pessoas e até na vida cotidiana. Então, se eu tiver que destacar um desafio social do Brasil, seria a educação, principalmente focando na qualidade e aproveitamento dos alunos dentro de sala de aula.

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#2  Por quê investir no desenvolvimento da comunidade do entorno?

Giorelli: Não acreditamos no termo “comunidade do entorno”, pois a empresa não é o centro e a comunidade não fica em volta dela. A empresa faz parte de uma comunidade, que nos recebe e nos acolhe, e com quem a gente quer desenvolver uma relação forte e de longo prazo, com ganhos mútuos. Investir no desenvolvimento das localidades em que operamos é fundamental, porque entendemos que a empresa será mais bem-sucedida a medida em que essa comunidade for mais desenvolvida e vice-versa. Então, o investimento na comunidade tem esse foco.

Além disso, sabemos que a presença dos nossos negócios em um determinado local gera alguns impactos no campo social – de forma positiva e negativa. Sendo assim, nossos investimentos sociais também têm a preocupação de, em alguma medida, mitigar ou compensar impactos negativos. Vou dar um exemplo: a nossa chegada em uma determinada cidade aumenta o tráfego de caminhões e isso pode gerar riscos para a segurança viária; ou até durante o período de construção de uma fábrica, acabamos gerando um incremento populacional no local. De outro lado, também há impactos positivos, e procuramos alavancar essas oportunidades com os investimentos sociais. Uma bastante óbvia é a geração de empregos. A nossa presença no município gera empregos diretos e indiretos para a população, então buscamos fazer investimentos para auxiliar a comunidade a ocupar esses postos de trabalho. A chegada da nossa operação aumenta o dinheiro que circula no local, o efeito da massa salarial circulante, então pensamos como podemos apoiar empreendedores locais a desenvolver negócios. Esses são alguns dos investimentos que fazemos com o objetivo de tornar a comunidade mais forte, sustentável, porque é bom para comunidade e bom para a empresa.

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#3   Qual a responsabilidade da empresa no que tange a comunidade que a acolheu?

Giorelli: Eu diria que são dois níveis a responsabilidade. O nível da participação cidadã da empresa, ou seja, a empresa faz parte dessa comunidade e ela deseja que esse local se desenvolva – acabamos assumindo um compromisso por sermos parte dessa comunidade. E outra responsabilidade é referente aos impactos que a operação gera, sendo positivo ou negativo.

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#4  Existe algum foco de investimento na comunidade que considere prioritário? Como educação, formação profissional e saúde?

Giorelli: Entendemos o desenvolvimento da comunidade a partir de quatro eixos: capital humano, dinamismo econômico, capital social e capital institucional – esses dois últimos denominamos “infraestrutura do desenvolvimento”. Então procuramos sempre trabalhar fortalecendo esses quatro pilares.

No fortalecimento do capital humano, são projetos no campo da educação, da defesa de direitos, na capacitação profissional. No campo do dinamismo econômico, trabalhamos a inclusão produtiva, o fomento a negócios inclusivos e o encadeamento produtivo. No capital social pensamos em como podemos fortalecer os laços e as redes para que a comunidade crie projetos para o seu desenvolvimento e tenha uma visão de futuro compartilhada e forte, movimentando vários atores sociais na mesma direção. E o capital institucional, buscamos fortalecer as organizações que atuam no território, sejam eles órgãos ou instituições de governo. O fortalecimento da gestão pública é tão fundamental quanto das organizações institucionais, como ONGs, cooperativas, até pequenas e médias empresas que possam atuar no território.

Nos últimos anos temos trabalhado fortemente o tema da educação. Em 2018, levamos o programa Parceria Votorantim pela Educação (PVE) para 104 municípios com foco na melhoria da qualidade do ensino básico junto às redes municipais. Os outros dois principais programas que temos é o ‘ReDes’ (Redes para o Desenvolvimento Sustentável), que trabalha a inclusão produtiva e a geração de renda nas comunidades; e o programa de Apoioà Gestão Pública (AGP) que trabalha seu fortalecimento com base na modernidade, planejamento e ordenamento territorial – esses dois últimos uma parceria com o BNDES.

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#5  Qual a importância do diálogo com a comunidade para melhor entendimento das suas necessidades?

Giorelli: O diálogo é fundamental porque cada comunidade tem uma demanda, um desafio, e tem prioridades que podem ser diferentes. Então, ouvir, dialogar e construir soluções de forma conjunta é muito importante. Também sempre procuramos com esse diálogo trazer visões novas para a própria comunidade a partir do que ela é. É um exercício de diálogo que se baseia em estudos, em diagnósticos que estamos fazendo, e em provocações, para que essa comunidade também possa ampliar os seus horizontes e se ver de forma diferente no futuro.

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#6  Quais as ações do Instituto Votorantim acerca deste tema?

Giorelli: Temos um programa de engajamento com stakeholders da empresa onde trabalhamos com metodologias de diálogo junto aos públicos. Temos, também, um programa chamado ‘Participação Comunitária’, que consiste na criação de conselhos e comitês da própria comunidade para discutir e pensar os seus desafios, fortalecendo a relação entre a empresa e a comunidade. Além disso, no exercício do planejamento da estratégia social de cada território, fazemos escuta nas comunidades, de formas setoriais e coletivas.

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#7  Responsabilidade social torna a empresa mais valiosa perante o mercado?

Giorelli: Esse é um tema que estudamos bastante e não temos evidências concretas de que a empresa se valoriza, de que as ações de uma empresa valerão mais se a mesma tiver um papel social ou não. É difícil fazer uma afirmação categórica sobre isso. Agora, o que sabemos é que os investidores exigem cada vez mais que as empresas tenham performances ligadas ao meio ambiente, social e de governança – até como fator de análise de investimento. Com isso, se determinada empresa não tem o patamar mínimo de performance de responsabilidade social, ela já não será considerada pelos investidores. Então, mais que gerar valor, talvez os investimentos sociais – pelo olhar do mercado – sejam uma forma de minimização de riscos operacionais, por exemplo.

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#8  Para finalizar, qual a responsabilidade das empresas com o futuro do país?

Giorelli: As empresas têm interesse que o país se desenvolva: um país mais desenvolvido oferece mais oportunidades de negócio e um ambiente de maior competitividade para que atuem em um contexto mais globalizado. Então, do ponto de vista mais estreito de negócio, o desenvolvimento do país é fundamental para que as empresas cresçam e prosperem.

Para além disso, empresas têm uma responsabilidade com a sua origem e com as comunidades ondem atuam. No caso da Votorantim, uma empresa 100% brasileira que está completando um século esse ano e tem uma história muito vinculada à história da industrialização no Brasil, a organização se sente responsável em contribuir com o desenvolvimento do país. Entendemos que o nosso negócio, em si, já é uma contribuição para o desenvolvimento, e os nossos investimentos sociais também somam e ampliam essa geração de valor. Todas as empresas possuem, sim, um nível de responsabilidade grande com o futuro na medida que são interessadas no desenvolvimento do Brasil.

 

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