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A gestão pública que o Brasil merece ter

por Leopoldo de Albuquerque*

 

É preciso incluir urgentemente no sistema público o mesmo empreendedorismo e profissionalização encontrados no setor privado

É fato que há muito a ser aperfeiçoado na gestão pública brasileira, seja nos municípios, estados ou na União, além de seus respectivos órgãos e empresas de economia mista. Melhorias na gestão podem conduzir a resultados surpreendentes no curto prazo, em termos de eficiência no emprego dos recursos organizacionais e de eficácia nos resultados. Talvez haja mais espaço para um rápido desenvolvimento da gestão pública brasileira investindo na sua competência gerencial do que através de quaisquer outros meios e intervenções.

Porém, essa competência deve ser buscada onde já foi exaustivamente testada e comprovada: nas empresas privadas. Na quase totalidade da máquina pública brasileira não há a mesma clareza existente no mercado quanto ao que representa um bom retorno sobre investimento, utilizando-se os melhores indicadores e práticas para cada área de interesse.

É preciso incluir urgentemente no sistema o mesmo empreendedorismo e profissionalização encontrados no setor privado, sem, obviamente, adotar sua lógica mercantilista, já que seus objetivos são diferentes. A assimilação de alguns conceitos e aspectos de sua lógica empreendedora e de resultados, além de muitas de suas tecnologias em gestão, administração e contabilidade, parece ser um bom caminho para que a burocracia brasileira possa profissionalizar-se.

Afinal, como explicar que o Brasil tenha alcançado sucesso estrondoso em áreas tão competitivas como energia, petróleo, medicina e agricultura e não consiga gerir projetos essenciais ao desenvolvimento do país, ou resolver a seca no Nordeste, ou as enchentes no Sudeste, ou a violência nas cidades, ou a falta de moradia?

Se aceitarmos o fato de que o volume de recursos financeiros arrecadado e investido pelo Estado nas diversas áreas é bastante representativo, poderemos aceitar também a lógica de que o que falta são as mesmas pessoas, competências e tecnologias em gestão que foram responsáveis por buscar petróleo em regiões abissais do Atlântico ou desenvolver tecnologias de ponta nas áreas de alimentação e espacial.

O que parece essencial é o envolvimento direto e comprometido de novos protagonistas e consciências, que possam fazer diferença para eliminar diferenças, lançar um novo olhar sobre a empresa pública, vê-la como qualquer organização que precisa ser eficiente na gestão dos recursos que administra, dando em troca de cada real aplicado o devido “lucro” social, exatamente como as empresas privadas fazem e são cobradas por seus conselhos de acionistas. Nesse caso, nós somos os acionistas, mas, por nos considerarmos minoritários, não fazemos uso dessa importante prerrogativa.

Mudar o sistema ou o senso comum não será uma tarefa fácil ou rápida; nossa própria formação cultural nos legou como herança o patrimonialismo, o conceito de que tudo provém do Estado, e reinterpretar esses valores exigirá muito tempo. Apesar de desejarmos que tudo se resolva em nossa geração, o máximo que podemos fazer é promover as mudanças necessárias para sair do patamar atual rumo a um novo patamar, mas apenas um degrau após outro, para que repassemos essa missão aos nossos descendentes, que continuarão a transformação, até que um dia ela se complete e o Brasil tenha orgulho de suas instituições e gestores públicos, zelosos pelos recursos alheios e eficientes em transformar ideias em ações que deem qualidade de vida a toda a população.

Então, mãos à obra.

 

*Leopoldo é presidente do Instituto Smart City Business America.

 

 

Publicado originalmente no jornal Gazeta do Povo.

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