Com uma agenda de aulas como “Introdução ao Investimento de Impacto e Equidade Privada” e “Financiamento Climático e Política Industrial Verde”, a formação internacional estimula a cocriação de soluções para impulsionar a economia verde no país

Crédito da Imagem: Bira Cosme
Hoje (12), aconteceu o terceiro dia da formação internacional em economia verde, promovida pela Comunitas em parceria com a Leadership Development Academy (LAD), na Universidade de Stanford. O dia foi marcado por debates sobre investimento de impacto e políticas industriais verdes.
A agenda do dia ofereceu uma variedade de aulas e debates, incluindo a discussão de dois estudos de caso. Os participantes iniciaram suas atividades com a aula de “Introdução ao Investimento de Impacto e Equidade Privada”, ministrado pelo professor e co-fundador da LAD, Roger Leeds, que também apoiou as lideranças públicas e privadas no estudo de caso “Financiamento da Coca Codo Sinclair – A aposta de Correa em energia sustentável no Equador”. Em seguida, o professor Michael Bennon acompanhou a equipe tanto no estudo de caso “Preocupações com o Quayside – Engajamento Público no Projeto de Cidade Inteligente de Toronto” quanto na segunda aula, “Financiamento Climático e Política Industrial Verde”.
Helder Barbalho, governador do Pará, reforçou a importância dos aprendizados adquiridos em Stanford para o Estado, sobretudo na agregação de valores para eficiência estatal por meio de financiamentos privados em negócios verdes que favoreçam a geração de emprego e renda. “Este ambiente de acesso à informação agrega profundamente valores para que possamos trazer a sustentabilidade econômica, social e ambiental, que é um desafio para o Brasil, e para corresponder às expectativas das urgências climáticas e construir um modelo que olhe pelas pessoas e desenvolva a floresta viva”.
Eduardo Riedel, governador do Mato Grosso do Sul, concordou com Barbalho, salientando os ensinamentos e aplicações práticas que podem ser levados para o Mato Grosso do Sul, especialmente nas áreas de parcerias público-privadas, compreensão de mercados e percepção externa sobre o Brasil e o Estado. “Como gestores e líderes estaduais, é nossa responsabilidade levar esse conhecimento adiante e criar políticas públicas que transformem a vida das pessoas. Esse espaço é uma excelente oportunidade para discutir temas relevantes que impactarão positivamente o Mato Grosso do Sul”.
Introdução ao Investimento de Impacto e Equidade Privada
A aula com o professor Roger Leeds focou no debate sobre a importância do investimento de impacto e do private equity para impulsionar o avanço econômico e social em países em desenvolvimento, destacando os desafios e oportunidades específicos que esses setores enfrentam. Ele também enfatizou a necessidade de acesso a capital de longo prazo, melhorias no ambiente regulatório e legal, bem como o desenvolvimento de habilidades empresariais e governança corporativa para atrair investimentos e impulsionar o crescimento econômico.
Empresas privadas em países em desenvolvimento enfrentam desafios distintos em relação às empresas de países desenvolvidos. Fatores como acesso limitado a capital de longo prazo, falta de habilidades empresariais necessárias e ambiente regulatório menos estável foram citados por Leeds. Além disso, o acesso ao capital de longo prazo é mais difícil para organizações de médio porte em países subdesenvolvidos, enquanto empresas maiores têm maior facilidade em obter financiamento.
A falta de desenvolvimento do mercado de equity no Brasil também foi destacada, com Leeds mencionando a necessidade de um mercado mais aprimorado e acesso a financiamento de longo prazo. A importância da governança corporativa, transparência e confiança nos investidores é fundamental para atrair o capital necessário para projetos.
Um ponto abordado pelos CEOs brasileiros refere-se à estabilidade regulatória e do sistema judiciário em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Para Leeds, um sistema judiciário confiável é essencial para proteger os investidores e resolver disputas legais de maneira justa e eficiente. “A falta de estabilidade e previsibilidade no sistema jurídico pode ser um desafio para os investidores. E é importante realizar reformas legais para buscar melhorias nesse sentido”.

Crédito da Imagem: Bira Cosme
Estudo de Caso: Preocupações com o Quayside – Engajamento Público no Projeto de Cidade Inteligente de Toronto
Quayside é uma zona portuária industrial em Toronto, onde estava planejado o desenvolvimento do projeto Waterfront Toronto em parceria com a Sidewalk Labs. O projeto visava criar uma cidade inteligente com inovações como transporte autônomo, energia solar e sustentabilidade, que seria um dos maiores empreendimentos imobiliários da América do Norte.
Durante o estudo de caso, foram levantados diversos desafios enfrentados pelo projeto, que, ao final, acabou sendo cancelado e a concessão para desenvolver a área foi transferida para outra empresa, sem o mesmo impacto originalmente planejado.
Dentre os desafios debatidos com relação ao projeto, foram citadas questões como desequilíbrios entre os incentivos e interesses envolvidos no Waterfront Toronto, tanto do setor público quanto privado. A habitação foi um outro problema apontado, pois a Sidewalk Labs buscava alinhar custos e benefícios, mas a escala do projeto e os custos envolvidos tornavam muito difícil encontrar soluções viáveis.
“Os contras talvez não foram analisados da forma que deveriam. Nós sabíamos que se fizessem o projeto da forma que se queria, seria muito ruim para a população. Hoje, o lugar está abandonado, mas foi a maior oportunidade imobiliária da América do Norte à época. A Sidewalk gastou mais de US$ 50 milhões neste projeto”, contou Michael Bennon.
Durante a discussão sobre o projeto da Sidewalk Labs, surgiram preocupações com relação à viabilidade e escalabilidade das propostas de tecnologia e inovação, como a construção de túneis subterrâneos operados por robôs para transporte de mercadorias. Outros pontos discutidos incluíram questões relacionadas à densidade demográfica, privacidade, termos e condições, bem como o engajamento público. A falta de entendimento e apoio da população desempenhou um papel importante para o fim do projeto, contribuindo para o desgaste da parceria público-privada.
Financiamento Climático e Política Industrial Verde
No segundo encontro do dia com o professor Michael Bennon, a discussão girou em cima da importância do financiamento climático e da adoção de políticas industriais verdes para enfrentar as mudanças climáticas e promover o desenvolvimento sustentável.
Para isso, Bennon defendeu que haja uma colaboração entre os países dos eixos Norte e Sul Global para enfrentar os desafios das mudanças climáticas e promover o desenvolvimento sustentável. Além disso, o setor privado tem um papel fundamental na busca de soluções, a partir do financiamento climático e desenvolvimento de políticas industriais verdes, e as empresas também podem colaborar com recursos e expertise para impulsionar a transição para uma economia de baixo carbono.
Um país democraticamente estável, com o aprimoramento do Estado de Direito, tem mais credibilidade no que concerne ao financiamento climático e à política industrial verde. “Um ambiente jurídico estável e previsível é essencial para atrair investimentos e promover o crescimento sustentável”, declarou Bennon.
Na aula, também discutiu-se a complexidade e os desafios envolvidos na criação de métricas apropriadas para avaliar a sustentabilidade, que incluem a necessidade de tornar os resultados sustentáveis tangíveis e mensuráveis, bem como a incorporação de critérios rigorosos. No entanto, é essencial que elas sejam desenvolvidas com o propósito de medir e quantificar o impacto ambiental e social das atividades econômicas, o que fornece informações valiosas para investidores e tomadores de decisão, permitindo uma avaliação mais precisa e informada da sustentabilidade de projetos e iniciativas.
Estudo de caso: Financiamento da Coca Codo Sinclair – A aposta de Correa em energia sustentável no Equador
No segundo estudo de caso do dia, em um novo encontro com o professor Roger Leeds, foi analisado o financiamento da usina hidrelétrica Coca Codo Sinclair no Equador, em que o governo equatoriano negociou um empréstimo de US$ 1,7 bilhão com duas empresas chinesas para construção do empreendimento, mesmo diante de riscos ambientais significativos.
O governo equatoriano enfrentava um dilema ao buscar financiamento para uma usina hidrelétrica sustentável. A China, conhecida por financiar projetos de infraestrutura em larga escala, era uma opção atraente, apesar das críticas ocidentais sobre superinvestimento e menos rigor em critérios e salvaguardas. A velocidade e facilidade na implementação de projetos chineses são atribuídas à governança e à conexão das empresas estatais com o governo chinês.
No geral, o debate girou em torno dos desafios e das complexidades envolvidas no financiamento de projetos de infraestrutura, especialmente quando se trata de parcerias com a China. Além disso, questões como capacidade governamental, transparência, controle de qualidade e custos também foram debatidas, evidenciando a necessidade de uma abordagem cuidadosa e estratégica ao buscar financiamento externo para projetos de grande escala.
A parceria com a China levantou preocupações devido à falta de licitação competitiva, transparência e comprometimento ambiental, o que trouxe problemas adicionais para o Equador, como dados desatualizados, falta de controle de qualidade na construção e corrupção. Essas questões resultaram em dificuldades financeiras e políticas devido ao alto custo do empréstimo chinês e ao não cumprimento das obrigações contratuais.
“A questão não é quem financia, mas quem paga a dívida. As coisas no Equador não estão boas, o governo foi dissolvido e vai ter uma nova eleição. Já teve outras situações parecidas com o Equador. Nesse sentido, o Brasil está muito à frente dos outros países em relação a seguir protocolos internacionais”, analisou Leeds.
Quem participa da formação?
Ao todo, 24 gestores dos setores público e privado participam da 3ª edição do programa de fortalecimento de lideranças da Comunitas. Dentre os líderes públicos, podem-se citar: os governadores Eduardo Leite (RS), Eduardo Riedel (MS) e Helder Barbalho (PA). Também fazem parte da comitiva a Conselheira do Tribunal de Contas do PA, Daniela Barbalho; o Secretário de Planejamento do PR, Luiz Augusto Silva; a Secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de MG, Marília Melo; a Secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de SP, Natália Resende; o Secretário de Planejamento e Entregas Prioritárias da Cidade de SP, Fernando Chucre; a Secretária Nacional de Planejamento e Orçamento, Leany Lemos; o Secretário Nacional de Geologia, Mineração e Transformação Mineral, Vitor Saback; e os deputados federais por SP, Paulo Alexandre Barbosa e Pedro Paulo Teixeira de Carvalho
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