Especialistas e gestores reuniram-se para discutir o potencial transformador dessa abordagem, salientando a importância de compreender o comportamento humano na formulação e execução de políticas governamentais
Na tarde de ontem (22), um webinário, realizado pela Comunitas, reuniu cerca de 60 gestores, de diversas regiões do país, para debater a importância das ciências comportamentais aplicadas à gestão pública. O evento marca o relançamento da trilha “Como Implementar Ciências Comportamentais na Gestão Pública”, que estará disponível na Plataforma Rede Juntos a partir do dia 28 de novembro.
A aplicação das ciências comportamentais nas políticas públicas oferece uma abordagem de baixo custo e complexidade. Pequenas alterações no ambiente possibilitam que os cidadãos tomem decisões mais acertadas, fundamentadas em seu próprio discernimento. As ciências comportamentais, assim, se tornam uma ferramenta importante para aprimorar a eficiência e eficácia das políticas públicas.
Para aprofundar o tema e apresentar exemplos de aplicações em diversas áreas, o webinário contou com a participação dos especialistas em ciências comportamentais, os professores Carlos Mauro, co-founder da CLOO Behavioral Insights Unit, e do integrante da Coordenação-Geral de Inovação e Ciências Comportamentais (CINCO) do Ministério de Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Antônio Claret.
Durante o evento, os painelistas fizeram uma breve introdução ao tema, destacando exemplos de aplicações em várias áreas, abrangendo também casos em nível subnacional. O professor Claret apresentou a CINCO, unidade de insights comportamentais do Governo Federal, acompanhado dos comentários do professor Mauro. Além disso, os inscritos tiveram a oportunidade de fazer perguntas para os especialistas.
“As ciências comportamentais mudaram significativamente a forma que entendemos o comportamento humano, o que nos deu a oportunidade de aplicar as ciências comportamentais às políticas públicas. Entretanto, existem as políticas sociais e as políticas estruturais, que não necessariamente seriam beneficiadas pelas ciências comportamentais”, explicou o professor Mauro.
As ciências comportamentais e o futuro das políticas públicas
O encontro destacou a crescente relevância das ciências comportamentais na construção de políticas públicas eficazes e adaptáveis ao compreender os fatores que influenciam o comportamento humano, permitindo aos governos atingir seus objetivos de forma mais eficiente. Elas podem ajudar não apenas a reduzir o custo das políticas, mas também melhorar a adesão popular e aumentar o impacto das políticas públicas na sociedade.
Carlos Mauro fez uma breve introdução sobre o tema, destacando sua natureza multidisciplinar e a influência da psicologia cognitiva e social. Ele enfatizou a importância desse campo para compreender o comportamento humano e sua aplicação nas políticas públicas, especialmente a partir dos anos 1970. As ciências comportamentais desafiaram a crença na racionalidade universal, revelando que as decisões não são tomadas de maneira uniforme para todos.
Carlos Mauro compartilhou exemplos práticos, como um projeto de redução de perdas alimentares em uma organização, onde pequenas mudanças na abordagem resultaram em uma diminuição significativa do desperdício. “Uma mudança que fizemos foi alterar a palavra lixo por desperdício, que mudou a forma como as pessoas olham para aquela ação. Fizemos uma série de ações, nada radical, e nesse conjunto, tivemos vários resultados interessantes. E reduzimos o desperdício em quase 24%”, contou ele.
Na sequência, Claret apresentou a CINCO, a primeira unidade de ciências comportamentais implementada no âmbito federal. Criada em julho deste ano, o órgão tem o propósito de impulsionar políticas públicas por meio das ciências comportamentais. Ele delineou as três frentes de atuação da entidade, que engloba a disseminação de conteúdos, a conexão com organizações interessadas e a implementação de projetos pilotos. O objetivo é utilizar insights comportamentais para aprimorar e adaptar as políticas governamentais, alinhando-as de maneira mais eficiente às necessidades da sociedade.
Ele também discutiu o modelo tradicional de políticas públicas baseado na racionalidade e destacou a importância de insights comportamentais baseados em evidências na formulação das políticas públicas. “Nossos instrumentos de políticas públicas são desenhados com base nesse modelo racional. E as políticas públicas seguem esse conjunto de ferramentas: incentivos, normas e informação, o que não é o mais eficaz”, explicou ele.
Para finalizar, Claret também destacou que a complexidade do Brasil, um país de proporções continentais, pode ser um terreno fértil para o campo das ciências comportamentais. “As diferenças culturais que existem nos níveis subnacionais, como estados e municípios, podem proporcionar experiências muito interessantes. Nós podemos testar políticas em diferentes contextos e ver o que funciona em uma região e não em outra, o que pode proporcionar um conhecimento valioso para o campo”.
Nova Plataforma Rede Juntos
Durante o evento, a diretora de Conhecimento, Comunicação e Inovação da Comunitas, Dayane Reis, anunciou que a aguardada nova Plataforma Rede Juntos será lançada na próxima terça-feira, dia 28.
“A Plataforma é um espaço colaborativo que conecta gestores de todas as áreas para que a gente possa se unir em nome do espírito público e contribuir com a melhoria do país. A Plataforma não é da Comunitas, temos várias pessoas produzindo conteúdo para que nós possamos levar seus conhecimentos na gestão pública para gestores de todo Brasil”, explicou ela.
Dentre as mudanças, destacam-se, por exemplo, mais interatividade nos conteúdos de Boas Práticas, novas ferramentas para apoiar o gestor público em seu dia a dia, como minutas de lei, e visualização mais dinâmica da Plataforma.
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