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Entrevista: “A oferta de tratamento oncológico é uma prerrogativa dos estados, porém as pessoas vivem nas cidades”, conta Denis Valejo

Em entrevista exclusiva para a Comunitas, o Secretário de Saúde do município paulista abordou oportunidades na gestão e atendimento oncológico e as contribuições da parceria com o A.C. Camargo e a organização para a melhoria da saúde

Crédito da Imagem: Prefeitura de Santos

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são esperados 704 mil novos casos de câncer anualmente no Brasil durante o triênio 2023-2025. Esta enfermidade é a segunda causa mais comum de morte no país, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares. Além disso, um levantamento recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), que analisou dados de 185 países, projeta que o Brasil poderá registrar 1,15 milhão de novos casos até 2050.

Estima-se que, se o aumento de casos de câncer continuar no ritmo atual, a União deverá gastar R$ 7,84 bilhões em 2040 apenas com procedimentos para pacientes oncológicos no Sistema Único de Saúde (SUS)

Diante desse cenário, a prevenção, detecção precoce e tratamento adequado do câncer surgem como oportunidades para o desenvolvimento da saúde e melhorias na qualidade de vida da população. E é nisso que Santos (SP) acredita. Ciente da magnitude do desafio, a administração municipal, em parceria com o A.C. Camargo Cancer Center e a Comunitas, vem traçando um plano estratégico para aperfeiçoar a rede oncológica local, com o objetivo de reduzir a mortalidade e a morbidade causadas pela doença na região, por meio de melhorias na gestão dos serviços de saúde pública.

Em uma entrevista exclusiva para a Comunitas, o Secretário de Saúde de Santos, Denis Valejo, aborda os tipos de câncer mais incidentes na cidade, as principais oportunidades de melhoria na gestão e no atendimento oncológico, as iniciativas de prevenção, diagnóstico precoce, tratamento e acompanhamento dos pacientes e como a parceria com o A.C. Camargo e a Comunitas contribuirá para o alcance das metas definidas pela prefeitura.

Confira!

1 – Desde junho de 2023, a prefeitura de Santos vem atuando em parceria com a Comunitas e o A.C. Camargo Cancer Center em um diagnóstico da rede oncológica municipal. Quais as principais oportunidades de melhoria e inovação na gestão e no atendimento oncológico em Santos, de acordo com os insights identificados no processo?

Sabemos que a oferta de tratamento oncológico é uma prerrogativa dos governos estaduais (Rede Hebe Camargo de Combate ao Câncer, em São Paulo). Porém, as pessoas vivem nas cidades. E é importante que o município trabalhe políticas públicas voltadas à prevenção de doenças e tenha uma rede bem estruturada, seja em espaço físico ou em fluxos de assistência, para realizar o primeiro atendimento e os encaminhamentos necessários tão logo haja hipótese diagnóstica ou diagnóstico de fato.

Nesse sentido, a parceria com o A.C. Camargo e a Comunitas é muito importante, pois o diagnóstico de oportunidades nos mostra que o câncer é a segunda causa de morte em Santos. Cerca de 25% da nossa população tem mais de 60 anos, maior que a média brasileira, o que também é um fator a ser considerado quando pensamos na presença dessa doença no nosso município.  Nos homens, os cânceres mais incidentes são pulmão e colorretal e, nas mulheres, mama e pulmão.

Temos uma rede de saúde atenta às demandas dos pacientes e realizamos ações que contribuem para a prevenção ou diagnóstico precoce, porém existem pontos de atenção que devem ser aprimorados.

2 – Considerando as diferentes faixas etárias e gêneros, quais são os tipos de câncer mais incidentes em Santos e como esses números se comparam às médias nacional e estadual?

Em Santos, os tipos de câncer mais incidentes entre homens, considerando as taxas de mortalidade ajustadas por idade entre 2017 a 2021, são os cânceres de pulmão, colorretal e próstata. O câncer de pulmão é o de maior incidência, atingindo um pico de 18,5 por 100 mil homens em 2017, seguido pelos cânceres colorretal e de próstata, que também apresentaram taxas consideráveis ao longo dos anos. O gráfico a seguir ilustra as taxas de mortalidade dos cinco tipos de câncer mais frequentes em homens que vivem em Santos. 

Entre as mulheres, os tipos de cânceres mais comuns entre 2017 e 2021 foram os de mama, pulmão e colorretal. Enquanto o primeiro teve as maiores taxas de mortalidade, com um pico de 20,9 por 100 mil mulheres em 2021, o câncer de pulmão também apresentou alta incidência, com uma taxa de mortalidade de 11,8 por 100 mil em 2018, e o câncer colorretal registrou uma taxa de 10,2 por 100 mil em 2017, permanecendo uma das principais causas de mortalidade. O gráfico a seguir ilustra as taxas de mortalidade dos cinco tipos de câncer mais frequentes em mulheres que vivem em Santos.

3 – Como a parceria com o A.C. Camargo e a Comunitas contribuirá para o alcance das metas definidas pela prefeitura para o combate ao câncer no município nos próximos anos? 

A principal será promover o aprimoramento das linhas de cuidado atualmente existentes, a partir do apontamento das oportunidades de melhoria, além de contribuir para a formação de novas linhas de cuidado, com base no levantamento das neoplasias mais incidentes. 

Hoje, temos em Santos fluxos de atendimento estabelecidos para o câncer bucal, de colo uterino, mama, próstata, cólon e reto e cabeça e pescoço. Todas as neoplasias são atendidas, mas necessitamos cada vez mais levar orientações à população – e também aos profissionais da nossa rede – para que possamos cada vez mais prevenir ou realizar diagnósticos precoces, ampliando a taxa de sucesso dos tratamentos.

4 – Quais as principais ações e programas já implementados localmente para o combate ao câncer, incluindo iniciativas de prevenção, diagnóstico precoce, tratamento e acompanhamento dos pacientes?

No âmbito das linhas de cuidado em oncologia no município de Santos, desenvolvemos diversas ações focadas nas neoplasias de maior incidência. Por exemplo, em relação ao câncer bucal, realizamos anualmente de duas a três campanhas direcionadas para a detecção da doença, divulgando os principais sinais e sintomas, formas de prevenção, orientações sobre quando procurar as unidades de saúde e triagem na Atenção Primária à Saúde (APS).

Para os cânceres de colo uterino e mama, a triagem é realizada como rotina pelas equipes de saúde em todas as policlínicas e unidades básicas de saúde, respectivamente. Para o câncer de mama, os exames podem ser solicitados por médicos e enfermeiros para mulheres a partir dos 40 anos.

O rastreamento do câncer de próstata é realizado nas unidades básicas de saúde através de exames laboratoriais. Já no caso do câncer de cólon e reto, devido à sua evolução discreta, a abordagem inicial dos sinais e sintomas é feita na APS, que encaminha o paciente para a especialidade quando necessário, já que os exames de colonoscopia são de responsabilidade dos especialistas.

Para o câncer de cabeça e pescoço, quando identificado por ultrassonografia, o usuário é encaminhado aos Ambulatórios Municipais para acompanhamento e fechamento do diagnóstico por um especialista em cabeça e pescoço.

Além disso, desenvolvemos diversas ações de prevenção para evitar o aparecimento da doença em nossa população, como: 

Prevenção:

  • Campanhas de conscientização: Realizadas anualmente, com foco em diferentes tipos de câncer, como bucal, colo do útero e mama;
  • Rastreamentos: Oferecidos nas unidades básicas de saúde, de acordo com as faixas etárias e grupos de risco, para câncer de colo do útero, mama e próstata;
  • Vacinação contra o HPV: Disponível para adolescentes de 10 a 14 anos nas escolas e unidades de saúde;
  • Orientação sobre hábitos saudáveis: Promovida nas unidades de saúde, com foco em alimentação balanceada, prática regular de atividades físicas e controle do tabagismo.

Diagnóstico precoce:

  • Exames preventivos: Disponíveis nas unidades básicas de saúde, como papanicolau, mamografia e PSA;
  • Capacitação de profissionais: Contínua, para aprimorar a qualidade dos exames e a detecção precoce do câncer;
  • Diagnóstico rápido: Através de fluxos direcionados para centros de especialidades em casos de suspeita.

Tratamento:

  • Acompanhamento especializado: Oferecido por médicos, enfermeiros e outros profissionais nas policlínicas e centros de especialidades;
  • Cirurgias: Realizadas em hospitais públicos e privados credenciados;
  • Quimioterapia e radioterapia: Disponíveis em centros especializados;
  • Cuidados paliativos: Oferecidos para pacientes em fase avançada da doença, visando conforto e qualidade de vida.

Ações complementares:

  • Programa de Atenção Intensiva ao Tabagista: Oferece grupos de apoio e acompanhamento para fumantes que desejam parar de fumar;
  • Grupo Movimente-se: Promove a prática de atividade física através da dança em 26 unidades de saúde;
  • Grupo Pelotão da Saúde: Oferece caminhadas com orientação de educadores físicos;
  • Atendimento domiciliar: Disponível para pacientes acamados ou com mobilidade reduzida;
  • Cuidados paliativos em domicílio: Realizados pelas equipes das EMADs, com visitas regulares e acompanhamento individualizado.

5 – A Comunitas apoia outras iniciativas em Santos, como é o caso do Mãe Santista. O projeto vem sendo bem sucedido e resultou na diminuição da mortalidade infantil no município. Após mais de uma década de sua implementação, qual o caminho para a longevidade e a constante diminuição desse índice? 

Costumo dizer que necessitamos dar saltos de qualidade na Saúde. O Programa Mãe Santista completou 10 anos em 2023, mas desde 2020 atingimos um grande feito: manter a nossa mortalidade infantil dentro da meta da OMS, de até dez óbitos por mil nascidos vivos – e isso com um número de nascimentos decrescente desde 2018, o que torna a manutenção do índice ainda mais desafiadora. 

Ao longo dos últimos anos, diversas iniciativas incrementaram o Programa, como a Escola da Família (antiga Escola das Mães), a ampliação do pré-natal ampliado ao parceiro, no qual ofertamos mais exames que o exigido pelo Ministério da Saúde; e o Nascer no Tempo Certo, que iniciou como um projeto-piloto e está agora se estendendo para todas as unidades de atenção primária do município. 

Trata-se de um projeto voltado à prevenção da prematuridade, que é a principal causa de morte evitável dos bebês de até 1 ano. Então, vamos agir no pré-natal com a identificação de mulheres que podem ter fatores de risco para a pré-eclâmpsia e agir para que tenham um final de gestação tranquilo. Em 8 meses de projeto piloto no pré-natal da unidade Castelo, nenhum bebê nasceu prematuro.

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