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Terceiro dia do programa de formação internacional aborda a segurança pública municipal e estratégias contra a lavagem de dinheiro

Com base em experiências internacionais e estudos de caso, os participantes exploraram estratégias inovadoras para reduzir a criminalidade, fortalecer a relação entre polícia e comunidade e combater a lavagem de dinheiro

Crédito da Imagem: Acervo Comunitas

No terceiro dia do programa de formação internacional, realizado hoje (13), os participantes exploraram práticas que fortalecem a segurança territorial por meio de políticas inovadoras, governança e parcerias intersetoriais. A iniciativa é fruto de uma parceria entre a organização e a Picker Center Foundation da School of International and Public Affairs (SIPA) da Universidade de Columbia.

O curso terá duração de cinco dias e segue até  sexta (15). A formação, que é realizada na Universidade de Columbia, tem o objetivo de fortalecer os selecionados para definir prioridades, planejar ações e construir parcerias efetivas, potencializando-os como agentes implementadores de políticas eficazes voltadas para o enfrentamento da violência. A comitiva é composta por 24 líderes dos setores público e privado.

A agenda do dia foi marcada por debates acerca do papel da administração municipal na segurança pública e estratégias de combate à lavagem de dinheiro e à corrupção. Pela manhã, o Professor de Prática Profissional em Assuntos Urbanos e Públicos e ex-prefeito da Filadélfia, Michael Nutter, apresentou a perspectiva da segurança pública sob a ótica da prefeitura. Em seguida, o Professor Assistente de Política Externa e Segurança Global na School of International Service da American University, Daniel Schneider, abordou estratégias de combate à lavagem de dinheiro e transparência.

À tarde, os participantes realizaram a primeira visita de campo do programa, em que conheceram o Departamento de Polícia de Nova York (NYPD), especificamente ao Escritório de Análise de Dados e Centro Conjunto de Operações de Segurança, onde conheceram práticas e ferramentas usadas para aprimorar a segurança e a resposta a crises na cidade.

Confira aqui como foi o primeiro dia
Confira aqui como foi o segundo dia

Abordando a segurança pública sob a perspectiva da administração municipal

Crédito da Imagem: Acervo Comunitas

A aula de Michael Nutter ofereceu uma importante reflexão sobre os desafios e estratégias para melhorar a segurança pública em grandes cidades, com base em sua experiência na transformação da maior cidade pobre dos Estados Unidos (Filadélfia). Nutter compartilhou insights sobre como reduzir a criminalidade e construir comunidades mais seguras, oferecendo lições que podem inspirar a implementação de políticas públicas mais eficazes no Brasil.

O ex-prefeito destacou a importância de uma liderança sólida e decisões firmes na gestão da segurança pública, ressaltando a necessidade de estabelecer uma relação de confiança e respeito mútuo entre o prefeito e o chefe de polícia. Ele também enfatizou a importância da participação comunitária, sugerindo a criação de canais de escuta para compreender as necessidades da população, e o fomento de parcerias com diversos setores da sociedade.

O professor abordou a desigualdade social e a pobreza como fatores que agravam a criminalidade, defendendo investimentos em programas sociais, de educação e de oportunidades de emprego para jovens como estratégias preventivas. Além disso, Nutter destacou a importância da tecnologia e da análise de dados na gestão da segurança pública, ressaltando como o uso de informações sobre crimes e estratégias baseadas em evidências pode otimizar os recursos e reduzir a criminalidade em áreas específicas.

O treinamento dos policiais para lidar adequadamente com crises de saúde mental e questões raciais, por exemplo, é fundamental para garantir uma abordagem mais humana e eficaz em situações complexas. Esse preparo, juntamente com a transparência nas ações da polícia e a prestação de contas, contribui para fortalecer a confiança da comunidade nas instituições de segurança pública

“Quando os policiais estão bem preparados para entender as diversidades de cada situação e as necessidades das pessoas, e quando a polícia age de forma aberta e responsável, cria-se um ambiente de respeito mútuo, o que fomenta  a colaboração entre a polícia e a sociedade”, explicou ele.

Estratégias contra a lavagem de dinheiro e transparência

A aula de Daniel Schneider aprofundou a complexidade da lavagem de dinheiro e a necessidade de uma abordagem global para combatê-la. O especialista destacou a importância da transparência em todos os níveis, desde o setor público até o privado, para identificar e rastrear fluxos financeiros ilícitos.

Schneider enfatizou a importância de “seguir o dinheiro” para desvendar esquemas de corrupção e crime organizado, utilizando como exemplo a aquisição de bens de luxo em paraísos fiscais com recursos provenientes de atividades criminosas, em especial de países como Rússia, Brasil, Europa e Colômbia. Ele também alertou sobre os desafios impostos pela utilização de criptomoedas, que dificultam o rastreamento de transações ilícitas.

Em relação ao Brasil, Schneider destacou que o país tem um bom histórico no combate à lavagem de dinheiro, com uma estrutura legal forte e um robusto mecanismo de coordenação nacional, representado pela Estratégia Nacional de Combate à Lavagem de Dinheiro (ENCCLA). No entanto, apontou desafios como a falta de recursos para as autoridades, dificultando investigações e o rastreamento de redes criminosas, além da demora nos processos judiciais, que podem levar mais de uma década para serem resolvidos.

O professor ressaltou a necessidade de uma cooperação internacional mais eficaz entre diferentes agências e países para combater esse tipo de crime mundialmente. Além disso, ele defendeu a importância de fortalecer as instituições, como tribunais de contas e judiciário, para garantir a transparência e a responsabilização dos agentes públicos. Schneider concluiu que “a luta contra a lavagem de dinheiro exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo não apenas as autoridades policiais, mas também o setor privado e a sociedade civil”.

Visita de campo – Departamento de Polícia de Nova York (NYPD) – CompStat

Crédito da Imagem: Acervo Comunitas

O CompStat, desenvolvido pelo Departamento de Polícia de Nova York (NYPD) na década de 1990, transformou a abordagem policial ao adotar um modelo baseado em dados para combater a criminalidade. Criado em resposta ao aumento de crimes violentos na cidade, o sistema usa informações em tempo real para identificar padrões de criminalidade e direcionar recursos de forma mais eficaz. A ferramenta permitiu que a polícia agisse de maneira mais estratégica, concentrando esforços em áreas e horários de maior incidência de crimes.

O CompStat também utiliza uma tecnologia chamada ShotSpotter para detectar sons de disparos de arma de fogo em tempo real, mesmo quando ninguém liga para o serviço de emergência. Essa ferramenta, combinada com a vasta rede de mais de 70 mil câmeras de segurança espalhadas pela cidade, permite uma resposta policial rápida e precisa a incidentes, reduzindo o tempo de reação para 30 segundos.

Embora a implementação do CompStat tenha enfrentado uma resistência muito forte dentro do NYPD, que inicialmente não estava acostumado a ser avaliado por dados, o sistema se mostrou eficiente na redução de crimes. Contudo, surgiram desafios como a manipulação de dados para atingir metas e o deslocamento do crime para outras áreas menos patrulhadas. Esses obstáculos exigiram ajustes constantes nas estratégias de policiamento, além de um processo rigoroso para garantir a precisão e a integridade das informações coletadas.

O CompStat opera em diversas etapas, começando com a coleta de dados sobre crimes, seguida pela análise dos mesmos para identificar padrões e o desenvolvimento de estratégias de policiamento. Através de reuniões regulares, os líderes da NYPD monitoram o progresso das táticas e fazem ajustes conforme o necessário, garantindo que as operações se mantenham adaptáveis às mudanças nas dinâmicas criminais. O modelo de “responsabilidade direta” atribui aos comandantes locais a tarefa de atingir as metas estabelecidas, criando uma cultura de cobrança e resultados.

Entre 1990 e 2023, os índices de homicídios, roubos e arrombamentos caíram drasticamente. A redução de homicídios, por exemplo, foi de 79,7%, enquanto os roubos diminuíram em 56,6%. O sucesso do modelo em Nova York inspirou outras cidades ao redor do mundo, como Toronto (Canadá), Sydney (Austrália) e Londres (Inglaterra), que adotaram estratégias semelhantes. A abordagem proativa e orientada por dados do CompStat se consolidou como uma das mais eficazes para a redução da criminalidade urbana.

Desenvolvimento de lideranças

O desenvolvimento de lideranças públicas é fundamental para o desenvolvimento do Brasil. Líderes públicos capacitados e engajados são capazes de tomar decisões estratégicas, implementar políticas públicas eficazes e promover a inovação no setor público.

Por isso, desde 2018 a Comunitas oferece programas de formação internacional exclusivos para líderes públicos e privados brasileiros. Em parceria com as mais renomadas universidades do mundo, como Stanford, Columbia e Johns Hopkins, o projeto visa proporcionar uma experiência única de aprendizado e desenvolvimento.

Abordando temáticas que são escolhidas a partir das demandas da própria Rede da organização, as formações oferecem aos gestores a possibilidade de ampliar sua visão ao adquirir uma perspectiva global sobre os desafios e oportunidades da gestão pública contemporânea. Além disso, o programa permite o desenvolvimento de habilidades para liderar equipes e implementar políticas públicas inovadoras, fortalecendo sua capacidade de impacto.

Quem participa?

Entre os selecionados para participar desta edição do programa de formação internacional, destacam-se o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e os líderes do legislativo federal, os deputados Pedro Paulo Teixeira (RJ), Renan Ferreirinha (RJ) e Tabata Amaral (SP). Também estão presentes os prefeitos João Campos, de Recife (PE), e Rodrigo Neves, de Niterói (RJ), além dos vice-prefeitos eleitos do Rio de Janeiro, Eduardo Cavaliere, e de São Paulo, Coronel Mello Araújo.

Também foram selecionados para participar da ação diversos secretários estaduais, como Álvaro Duboc, da Economia e Planejamento do Espírito Santo; Antônio Videira, da Justiça e Segurança Pública do Mato Grosso do Sul; César Roveri, da Segurança Pública do Mato Grosso; Roberto Sá, da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará; e Marcel Beghini, Secretário-geral de Minas Gerais, bem como líderes de órgãos públicos, como a Procuradora Geral do Estado de São Paulo, Inês Coimbra; e o pesquisador o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), Daniel Cerqueira. 

Representantes do Núcleo de Governança da Comunitas também também estão presentes, a exemplo de Carlos Jereissati (Grupo Iguatemi) e Luiz Ildefonso Simões Lopes (Brookfield Brasil), acompanhados pelos parceiros institucionais Rafael Poço, Diretor-Executivo do Instituto de Filantropia Corporativa Galo da Manhã, e Fernando Schuler, professor do Insper e coordenador acadêmico do Mapa da Contratualização, bem como o jornalista da Revista Exame, Léo Branco.

Representando a Comunitas, estarão presentes a presidente da organização, Regina Esteves; a Diretora de Comunicação, Conhecimento e Inovação, Dayane Reis; a Diretora de Gestão e Investimento Social, Patricia Loyola; e a Diretora de Estratégias e Parcerias, Ronyse Pacheco.

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