por Gonzalo Vecina Neto
É interessante pensar que a humanidade caminha sobre a Terra porque existiu mudança. Essa é a maneira mais simples de descrever a maravilha da evolução humana. Mas é doloroso pensar que, como fruto dessa evolução, ganhamos autonomia que dialeticamente nos permite decidir por não mudar ou mudar de maneira equivocada.
As transformações que a humanidade gerou no mundo tem profundas consequências para a vida na terra e na sociedade. Se a humanidade não for capaz de mudar ou fizer equivocadamente, desaparecerá. Na área da saúde muitas dessas transformações são evidentes, pois a saúde é o nervo exposto da evolução humana.
O violento processo de urbanização do último século trouxe problemas complexos para a vida – questões como saneamento, cuidado com os resíduos produzidos pelo modo de vida, uso de substâncias tóxicas etc. Tais fatores, consequentemente, permitiram que as pessoas tivessem uma melhor qualidade de vida e acesso à segurança, alimentação, água, melhores condições de vida e bem-estar social, o que resultou em mais e melhor vida.
As transformações demográficas e epidemiológicas (a forma de adoecer e morrer) foram absolutamente dramáticas nos últimos 70 anos. A expectativa de vida nos países desenvolvidos saltou de 40 anos no século 19 para quase 80 neste século. E outros países, mesmo com menor grau de desenvolvimento social e de civilização, como o Brasil, trilham o mesmo caminho. Mas o desafio de mudar para continuar evoluindo está intocado, não foi enfrentado.
O programa Juntos pelo Desenvolvimento Sustentável propõe uma forma de enfrentar estes desafios e mudar para enfrentar as mudanças. No campo da saúde são duas transformações críticas: uma nova forma de abordar as doenças, o processo de adoecer e morrer, e uma nova forma de gestão dos recursos disponibilizados para a sociedade. Aliás, gestão é um problema recorrente em outros setores da administração pública. Na Saúde torna-se mais crítico devido à notória complexidade de seus arranjos produtivos.
Esta cartilha propõe alguns caminhos para enfrentar esses desafios nos municípios. São pontas de novelo que os leitores terão que desenrolar em suas comunidades e gerar caminhos próprios de transformação. O cerne da proposta é mudar a partir da mobilização conjunta do Estado, dos empresários e da sociedade civil, gerando um processo de co-criação para enfrentar o desafio da mudança, continuar evoluindo e criar um mundo melhor para todos.
*Gonzalo Vecina Neto é ex-Diretor-Executivo do Instituto Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Ex-Presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ex-Secretário Municipal de Saúde de São Paulo. Ex-CEO do Hospital Sírio-Libanês. Professor Assistente da Faculdade de Saúde Pública da USP. Ex-Diretor-Executivo do Programa de Estudos Avançados em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde (PROAHSA). Médico graduado pela Faculdade de Medicina de Jundiaí.
Postado originalmente na Rede Juntos, plataforma de conhecimento da Comunitas.
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