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Bate-Bola | Coordenadora do BISC, Anna Peliano comenta a pesquisa e os investimentos sociais corporativos do Brasil

 

O Bate-Bola dessa vez é com uma grande especialista em políticas sociais, Anna Peliano!

Atualmente, Anna Peliano coordena o Benchmarking de Investimento Social Corporativo (BISC), a maior pesquisas sobre investimento social corporativo do Brasil, liderada pela Comunitas, que recentemente completou 10 anos de história e realizou uma retrospectiva dos caminhos percorridos pelas empresas do grupo, no campo social, desse período.

Anna é socióloga e pós-graduada em Política Social pela UnB. Foi Técnica de Pesquisa e Planejamento do IPEA, elaborou e publicou vários trabalhos na área social tendo como foco a formulação e avaliação de políticas públicas, especialmente na área de combate à fome e à pobreza. A partir do final da década de noventa, conduziu no IPEA uma série de estudos sobre a participação do setor privado em atividades sociais.

Dentre as inúmeras funções exercidas destacam-se as seguintes: Coordenadora do Programa de Estudos da Fome da UNB; Secretária-Executiva da Comunidade Solidária; Diretora de Política Social do IPEA; e, Coordenadora de Estudos de Responsabilidade Social do IPEA. Atualmente é membro do Grupo de Pesquisa de Nutrição e Pobreza do Instituto de Estudos Avançados da USP.

Confira a entrevista e saiba mais sobre o BISC e o panorama dos investimentos sociais brasileiros:

 

  • Como a senhora chegou à coordenação do Benchmarking do Investimento Social Corporativo?

 

A experiência adquirida em anos de trabalho dedicados a acompanhar e avaliar políticas públicas me levou a ampliar esse campo de investigação e incorporar a atuação social de caráter público, porém não estatal, realizada pelo setor empresarial. Desde meados da década de 90 tenho, então, me dedicado a pesquisar esse tema. Nesse caminho, tive a oportunidade de compartilhar com a Regina Esteves, diretora-presidente da Comunitas, os resultados dos novos estudos e isso motivou o seu convite para eu contribuir para a missão da Comunitas que é estimular o aprimoramento dos investimentos sociais corporativos e incentivar a participação da iniciativa privada no desenvolvimento social e econômico do país. A convergência de objetivos e o reconhecimento dos compromissos públicos, do dinamismo e da capacidade de mobilização da Regina me estimularam a participar desse desafio.

 

  • O BISC completou recentemente 10 anos! Como foi a evolução da primeira pesquisa, em 2008, até a décima edição, em 2017?

 

Os dez anos do BISC representam uma conquista da Comunitas e permitem à sociedade acompanhar anualmente a evolução dos investimentos sociais corporativos no país. A pesquisa foi sendo sucessivamente aprimorada e ampliada de forma a se transformar em uma ferramenta de apoio à gestão e ao aprimoramento da atuação social das empresas. Isso porque objetivo do BISC não é apenas produzir dados estatísticos, mas também inserir novos temas no debate, orientar o desenho de boas práticas sociais e consolidar padrões de desempenho que estimulem a multiplicação dessas práticas.

 

  • Para as empresas, quais os benefícios de integrarem ao grupo BISC?

 

Eu destacaria, por um lado, a oportunidade de participar do Grupo de Debates BISC que reúne empresas que são hoje referência no campo social e que se dedicam a promover o intercâmbio de experiências e a reflexão conjunta sobre temas relevantes para a condução dos investimentos sociais. Por outro lado, ao responder o questionário BISC os gestores são estimulados a refletir sobre a sua atuação social, identificar estratégias alternativas de trabalho, mapear desafios e identificar sugestões para futuros aprimoramentos. Os resultados da pesquisa são muito úteis para a empresa identificar os padrões de comportamento dos seus pares; tomar decisões sobre o seu orçamento social; acompanhar e avaliar a evolução dos seus investimentos sociais ao longo do tempo; e contribuir para a produção e divulgação de conhecimento sobre o tema. Os resultados do BISC têm sido divulgados nacional e internacionalmente, e se constituem hoje em importante fonte de informações para a academia, conforme evidenciado nos debates ocorridos no seminário de lançamento dos resultados BISC de 2017.

 

  • Qual o motivo para, mesmo em época de crise, o investimento social privado manter-se no mesmo nível?

 

A atuação social das empresas decorre de uma série de fatores que se sobrepõem à crise econômica. Compromissos sociais, interesses dos negócios e pressões da sociedade são determinantes para a sustentabilidade dos investimentos sociais e ganham relevância redobrada em conjunturas mais desfavoráveis.

 

  • E comparado aos padrões internacionais? Em qual nível estão os investimentos sociais brasileiros?

 

As empresas do grupo BISC mantiveram um padrão de investimentos compatível com os internacionais, conforme observado na comparação com a pesquisa do CECP, que é uma organização parceira da Comunitas, sediada em Nova York e que faz também um acompanhamento anual dos valores investidos na área social pelas empresas norte americanas.

O melhor indicador para comparar o padrão de investimentos das empresas que participam do BISC e da pesquisa do CECP é a proporção dos investimentos sociais nos lucros brutos das empresas. Os resultados desses últimos dez anos sinalizam que em seis deles, o padrão brasileiro de investimento social esteve na frente ou empatado com o CECP. Em 2016, mais da metade das empresas do BISC investiram na área social, valores superiores a 0,66% dos seus lucros brutos.

 

  • E as parcerias estratégicas? Como agregam o conhecimento do BISC?

 

As parcerias com outras organizações que lidam com questões relacionadas aos investimentos sociais, sejam instituições acadêmicas, coletivos empresariais ou organizações internacionais, têm sido fundamentais para o aprimoramento do BISC, para a introdução na pesquisa de novos temas e novas abordagens e, especialmente, para disseminar o conhecimento extraído da pesquisa.

Além do CECP, parceiro desde o primeiro momento, a Comunitas buscou ampliar as relações com diversas organizações que têm uma atuação estratégica na formação de gestores e lideranças sociais, bem como na mobilização do setor privado em prol de compromissos sociais, a exemplo da Agenda Pública, CBVE, FIRJAN, Fundação Getúlio Vargas (GVces e EAESP), GIFE, ICE, IDIS, PNUD e Rede Brasil do Pacto Global. Ampliar e fortalecer essas parcerias está entre as prioridades do BISC para os próximos anos.

 

  • Como o BISC pode contribuir para o enfrentamento dos problemas sociais no Brasil?

 

O enfrentamento dos problemas sociais demanda a mobilização de esforços de diversos segmentos da sociedade. Para além do fortalecimento do Estado, cabe alargar o manto do público, incorporando-se novos atores que possam impulsionar as mudanças necessárias à construção de uma sociedade mais justa. Nesse contexto, é fundamental ampliar a participação do setor privado e incentivar as parcerias.  Para tanto, importa ampliar o conhecimento sobre os modos e procedimentos empregados por cada um dos parceiros e, no caso das empresas, isso inclui acompanhar a evolução dos seus investimentos sociais, as atividades desenvolvidas, suas motivações e resultados alcançados. É nessa direção que o BISC pretende dar sua contribuição. Na medida que instituiu padrões de referência para uma atuação social qualificada, dissemina informações sobre o tema e busca incentivar a replicação de experiências exitosas, a pesquisa contribui para inserir uma nova dimensão à participação do setor privado na busca de soluções para a superação das desigualdades sociais do país.

Um exemplo que reflete o alcance das contribuições da pesquisa foi a criação, pela Comunitas, do Programa Juntos. Ele mobiliza lideranças empresariais em prol do aprimoramento da gestão pública municipal e foi inspirado nos resultados do BISC.

 

  • Quais são os próximos desafios e tendências do investimento social corporativo brasileiro?

 

Do balanço dos investimentos sociais na última década, realizado pelo BISC de 2017, extrai-se que no futuro próximo, o investimento social privado será avaliado pela sua aderência aos seguintes predicados: participativo, flexível, efetivo, inovador, estratégico para o negócio e alinhado a agendas públicas, nacionais e internacionais. É nessa direção que deverão ser dados os próximos passos. O desafio ainda é grande, mas a experiência recente indica que já temos um conhecimento acumulado que permite apostar no alcance dessa empreitada.

 

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