Troca entre gestores e especialistas é um dos focos das ações da Comunitas para buscar melhoria da gestão pública.
Na última sexta-feira (28), a Comunitas reuniu, em sua sede, gestores públicos, especialistas e população para debater iniciativas que promovam a melhora da qualidade da merenda escolar servida nas escolas da rede municipal de ensino, durante o evento “Escola de Comer – boas práticas na merenda”.
“A alimentação é um dos fatores essenciais para um crescimento contínuo e saudável das crianças, e influencia, inclusive, no desempenho do aprendizado infantil. E a Comunitas acredita que o investimento na melhoria da educação é chave para a transformação positiva do país”, disse a diretora-presidente da Comunitas, Regina Esteves, durante abertura.
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Um dos destaques do encontro ficou por conta publicação “Escola de Comer – alimentação escolar de qualidade”, lançada recentemente pela Comunitas, por meio do apoio da Fundação Cargill. A publicação explica como a Prefeitura de Paraty (RJ) aperfeiçoou a merenda oferecida para os alunos da cidade, ao criar a Escola de Comer, projeto de requalificação do cardápio alimentar, estabelecendo uma alimentação mais saudável e regional.
“Esse projeto em parceria da Comunitas nos deixa muito contente, pois ele alia pontos que consideramos importantes, como a alimentação das crianças, a agricultura familiar, e a melhoria da gestão pública. Essa publicação é uma grande oportunidade para disseminarmos o conhecimento”, explicou Yuri Feres, presidente da Fundação Cargill.
O encontro contou com uma roda de debate com a participação do secretário de Educação de Teresina (PI), Kleber Montezuma; do secretário-adjunto na Secretaria Municipal de Educação, Daniel de Bonis; da chef de cozinha e coordenadora da Escola de Comer, Ana Bueno; com a mediação da especialista em políticas públicas, especialmente na área de combate à fome, Anna Peliano.
Em Paraty, resultados da Escola de Comer chamam atenção
Criada em 2014, a Escola de Comer reúne padrinhos voluntários que contribuem com a sugestão de um cardápio nutritivo para as escolas municipais e também com uma proposta de logística e melhoria das estruturas físicas das escolas, tudo com recursos da própria prefeitura. Atualmente, a Escola de Comer conta com 24 padrinhos, 70 merendeiras, 6.000 alunos em 32 escolas municipais.
“Nós sabíamos da importância do cuidado com a alimentação infantil, mas ainda era um assunto muito esquecido, como se fosse algo à parte da escola, longe do pedagógico. Quisemos valorizar e inserir a alimentação no contexto escolar”, disse Ana Bueno.
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Além disso, a iniciativa valoriza a agricultura familiar regional, pois parte dos ingredientes usados são fornecidos por produtores locais – hoje, mais de 100 participam e produzem, o que alavancou a economia da cidade.
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Segundo Ana, para fazer essa mudança é fundamental o engajamento do gestor público local para realizar os investimentos necessários. Em Paraty, por exemplo, o investimento da prefeitura em compras da agricultura familiar passou de cerca de R$ 140 mil, em 2015, para mais de R$ 250 mil, em 2017 – o custo da alimentação por aluno é de R$ 2,47, sendo de recursos próprios uma média de R$ 1,87.
“Até 2014, somente 40% dos alunos se alimentavam na escola e, em 2017, o número chegou à 90%, com a iniciativa funcionando durante todo o ano. O projeto deu tão certo que, além dos alunos, parte dos professores também se alimentam na escola”, informou Ana.
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A coordenadora também destacou algumas dificuldades no desenvolvimento do projeto e as soluções encontradas para suprir. Entre elas, estava a morosidade nos processos de compras, que foi solucionada com o acompanhamento dos processos e apoio do gabinete do prefeito; falta de credibilidade por parte de merendeiras, resolvida com ações de formação para merendeiras e concurso da melhor receita da merenda escolar reuniões e engajamento com educadores e gestores; e a instabilidade no fornecimento da agricultura familiar e transporte das mercadorias, sanada com a definição de uma agenda de recebimento e entrega de insumos para as escolas e apoio no transporte em parceria com a secretaria de Agricultura e Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio de Janeiro.
Em São Paulo, garantir qualidade para mais de 1 milhão de alunos é desafio
Na capital paulista, a alimentação escolar é direito garantido para mais de 1 milhão de crianças e jovens. Daniel de Bonis, secretário-adjunto na Secretaria Municipal de Educação, apresentou a realidade da maior cidade do país, onde mais de 2 milhões de refeições são preparadas e servidas diariamente, sob a supervisão de nutricionistas.
Na cidade, a elaboração dos cardápios considera diversos fatores, como qualidade nutricional, safra, disponibilidade no mercado, aceitabilidade e segurança sanitária dos alimentos. “Muitas crianças e jovens aprendem a se alimentar bem na própria escola, repercutindo na alimentação das suas famílias”, afirmou Daniel.
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Ainda segundo o secretário-adjunto, todos os alimentos destinados ao programa de alimentação escolar do município são submetidos à inspeção, análises e laudos laboratoriais, por uma equipe composta por engenheiros agrónomos, médicos veterinários e nutricionistas – ação necessária para garantir a qualidade dos alimentos.
A alimentação escolar da cidade impacta positivamente a cadeia produtiva de alimentos, com a inclusão de gêneros alimentícios cultivados por agricultores familiares. A produção agroecológica também é valorizada, e, para fortalecer isso, foi criada a Lei Municipal 16.140/2015, que dispõe sobre a obrigatoriedade de inclusão de alimentos orgânicos ou de base agroecológica na alimentação escolar no âmbito do Sistema Municipal de Ensino de São Paulo – por meio de adoção progressiva, de 3% em 2017 até 100% em 2026. Atualmente, a prefeitura paulistana gasta R$ 24,9 milhões em compras de agricultura familiar e R$ 7 milhões em orgânicos e agroecologia.
Daniel ainda apresentou o Prato Aberto, ferramenta colaborativa para dar mais transparência à merenda escolar municipal e permite consultar o cardápio das mais de 3 mil unidades.
Em Teresina, projeto visa redução do desperdício alimentar
A educação de Teresina tem dado exemplo para o Brasil: em 2018, a cidade teve a melhor educação pública entre as capitais do Brasil, segundo o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que leva ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).
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E foi o próprio secretário de Educação da cidade, Kleber Montezuma, que apresentou o Programa nacional de alimentação escolar na rede pública municipal de ensino de Teresina. A cidade conta com 306 unidades de ensino, quase 90 mil alunos matriculados, cerca de 7 mil colaboradores e servidores atuando, e mais de 29 milhões de refeições oferecidas em 2017.
Temos um cuidado muito especial com a merenda dos alunos, pois se não tiver merenda na escola, não tem aula
Kleber Montezuma, secretário de Educação de Teresina
Segundo Kleber, ao longo dos anos a prefeitura tem entrado com mais recursos para garantir uma alimentação melhor para os alunos. De 2013 para 2017, o total gasto pela gestão municipal pulou de R$ 8 milhões para R$ 11 milhões.
“Uma coisa que nos chamou a atenção é que não basta colocar comida saudável e garantir a segurança alimentar, mas também orientar o consumo consciente”, explicou o secretário.
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Para sanar o problema, foi criado o projeto Sobra Zero, com o objetivo de reduzir o desperdício de alimentos nas escolas e orientar alunos para um consumo consciente. Foram realizadas ações como palestras da equipe de nutrição, discussão em sala de aula, pesagem diária das sobras dos pratos dos alunos e exposição dos resultados ao final de cada semana. Como resultado, na Escola Municipal Eurípedes de Aguiar, por exemplo, o índice de desperdício médio diário caiu de 22,43kg para 10,5kg – uma redução de 53,2% por dia.
Por que debater e melhorar a alimentação escolar?
Alimentação infantil é fonte de uma das maiores preocupações das famílias brasileiras. E realmente deve ser: no Brasil, 33,5% das crianças de 5 a 9 anos apresentam excesso de peso, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares, cujos dados mais recentes são referentes a 2008-2009.
Presente no evento, Carolina Borges, mãe de estudantes matriculados na rede pública municipal de São Paulo, e participante de conselhos escolares, concorda que a alimentação deve ser uma construção pedagógica. “Por exemplo, o currículo escolar agora está sendo baseado nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU), então porque não orientar a alimentação escolar nessa direção também? Incentivando o consumo de água consciente, menos resíduos, e a produção do pequeno agricultor”, considerou.
Assista ao evento completo:
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