Em entrevista exclusiva para a Comunitas, a Subsecretária de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas do Rio Grande do Sul, Ana Carolina dal Ben, dá dicas e fala sobre o projeto Envolver RS, desenvolvido pela entidade desde 2021.

Secretária Ana Carolina dal Ben. Crédito da Imagem: Facebook
A cultura organizacional, seja no ambiente corporativo ou público, pode ser resumida em uma percepção comum mantida pelos membros da instituição. Logo, as pessoas que atuam nas instituições são agentes que contribuem para esse intercâmbio constante, sendo seus valores componentes para a formação da cultura da organização.
Na gestão pública, não é diferente. É importante compreender as oportunidades e fragilidades na execução de um serviço público de qualidade, encontrando alternativas na busca da eficiência e eficácia organizacional.
Com esse olhar, a Comunitas vem apoiando o governo do Estado do Rio Grande do Sul desde 2021 com o projeto Envolver – Juntos pela Evolução do RS, que já está na sua terceira fase e tem o propósito de transformar a cultura organizacional em colaboração com gestores e líderes do setor público gaúcho, valorizar e elevar a autoestima dos servidores, e assim aprimorar a prestação de serviços com foco em resultados.
Confira a entrevista realizada com a Subsecretária de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas do Rio Grande do Sul, Ana Carolina dal Ben, que destaca pontos fundamentais para instituições públicas que desejam desenvolver a cultura organizacional em seu governo, partindo da experiência com o Projeto Envolver.
Confira!
1 – O projeto Envolver já tem o apoio da Comunitas desde 2021, e agora em setembro iniciou a sua 3° fase. Foi estipulado diversos resultados, como o fortalecimento das equipes de governo, integração das secretarias, comunicação ágil, disseminação dos direcionadores da cultura, fortalecimento dos gestores como líderes culturais. Você poderia falar mais um pouco sobre como será este processo até atingir estes resultados?
Eu assumi a Subsecretaria de Gestão de pessoas em abril de 2023 e nas primeiras semanas já tomei conhecimento do projeto Envolver. De lá para cá, a BTA, consultoria que é nossa parceira através da Comunitas, teve um esforço ainda maior para institucionalizar o fortalecimento da cultura organizacional na Subsecretaria, capacitando a equipe para que esse conhecimento permaneça no estado do Estado do Rio Grande do Sul e que possa ser continuado e melhorado pela nossa equipe, que se dedica a esse projeto.
Além disso, temos feito muitas intervenções nas demais Secretarias do Estado, a partir da experiência que estamos ganhando da Comunitas e BTA. Estamos, inclusive, capacitando uma turma de consultores internos dentro da nossa Subsecretaria, o que considero de suma importância. Enquanto órgão central temos o papel de atender todas as outras estruturas organizacionais do governo e a BTA está nos auxiliando nessa formação para os servidores se reconhecerem no papel de consultores, business partners e um apoio relevante na gestão de pessoas para todos os órgãos do Governo.
2 – Qual é o diferencial do projeto Envolver? Existe algum elemento inovador para instaurar a cultura organizacional?
Um aspecto que considero muito importante, é que a BTA tem o olhar e o poder de falar com os titulares das pastas, ou seja, ela fala com os Secretários em entrevistas individuais, dando direcionamento aos líderes. Diagnosticar e indicar maneiras de falar com os liderados é de suma importância. Acho muito importante quando se trabalha cultura, pois não adianta apenas o nível tático e operacional, precisamos olhar para o estratégico, de como os titulares das pastas estão liderando a sua equipe e os gaps e problemas que precisam ser sanados.
3 – Vemos muito se falar de cultura organizacional no ambiente privado, porém parece que existe uma lacuna nas entidades públicas em relação ao tema, o que infelizmente precariza o trabalho do servidor público. Para você, e de acordo com a sua experiência no Projeto Envolver, qual a melhor maneira para trabalhar o conceito de cultura organizacional em órgãos de governo?
Acredito que não difere muito da iniciativa privada: as altas lideranças tem que dar o exemplo. O nosso Governador é uma inspiração para os gestores públicos estaduais e torna o trabalho bem mais fácil. Esse alinhamento das altas lideranças, e ter pessoas qualificadas, se torna muito importante para que o a instituição tenha condições de querer fazer qualquer intervenção quanto a cultura, o que queremos fortalecer e enfrentar. Quando a liderança traz isso no exemplo, o efeito vem em cascata e permeia toda a organização. Foi feito um workshop entre o Governador e Secretários, com o intuito de inspirar a todos para que ajam da forma que condiz com a organização.
Temos que evitar a dissonância entre o que é dito e o que é feito. A cultura é o que vivemos dentro da organização. Se tem pessoas com comportamentos e atitudes dos que são ditos os esperados, se cria uma confusão na cabeça das pessoas. Logo, o exemplo é o principal. São as atitudes e comportamentos dos líderes que forjam a cultura organizacional e dita a maneira das relações de trabalho.
4 – Você acha que uma estratégia casada, em se ter um plano de onde você quer chegar junto à liderança, funciona?
Acredito que comportamentos e hábitos que queremos fortalecer e empoderar na nossa organização é quase como uma missão e valores. É uma reflexão do que queremos fortalecer e o que queremos remover no funcionamento da organização. Não vejo como uma estratégia, é algo que deve ser vivido. Ter esse plano e cultura bem definida serve de baliza, assim como os valores, para sempre que enfrentamos dilemas e problemas, termos na mão um guia de como superá-los. A cultura organizacional funciona como bastiões que guiam o nosso comportamento dentro do Governo do Estado, em situações desafiadoras.
No nosso caso, fazer bem feito sempre é o lema. Ou seja, sempre puxar os servidores para fazerem algo de qualidade, que é o que o contribuinte gaúcho espera da gente.
5 – Segundo o International Stress Management Association (Isma), o Brasil é o segundo país com maior número de casos da síndrome de Burnout. Como é o panorama de servidores e líderes públicos frente a esse indicador? Como está sendo tratado este tema no projeto?
O projeto não está tratando diretamente sobre isso, porque o problema não existe de forma tão direta em nossas Secretarias. Por outro lado, vemos isso nos indicadores de adoecimento dos nossos servidores, sobre afastamento de problemas de saúde, sendo o principal ofensor das licenças por motivo de saúde. O que estamos fazendo agora e criando uma política de atenção à saúde dos servidores.
Já temos um programa que chama Proser, que é de atendimento e apoio aos servidores com problemas psicológicos. Atendemos 22 secretarias que já tem uma filial do Proser, com psicólogo para realizar o acompanhamento dos servidores. A ideia agora é olhar para os indicadores de afastamento de todas as Secretarias, com formulários padrões sobre o assunto e relatório de análises.
Simultaneamente, estamos criando uma rede de parceiros, que conseguem ofertar grupos específicos de acompanhamento, por exemplo, para pessoas que querem parar de fumar, gestantes, pessoas que estão melancólicas, etc. A ideia é que conforme a demanda, podemos ativar essa rede para apoiar todos os servidores públicos do Estado.
6 – Aqui na Comunitas, estimulamos a replicabilidade das ações bem sucedidas. De que forma o projeto Envolver pode servir como referência para outros Governos? Existe alguma dica para outros Governos que gostariam de implementar ações semelhantes?
Tenho duas dicas principais:
1 . Destacar um grupo de pessoas que dentro da sua organização que pudesse absorver e tornar essa metodologia como um dos serviços que a organização pode ofertar na instituição. É necessário institucionalizar essa política dentro da organização. Realizar uma ação de engajamento, entrosamento, até de provocar entre os gestores o entendimento na prática do que é a cultura organizacional. Olhar para a institucionalização de todo esse conhecimento.
2. Que os envolvidos abracem o projeto se realmente estiverem interessados em implementá-lo. Se estrategicamente não for uma necessidade para a instituição, essas ações podem se tornar problemáticas. Deve haver endosso da liderança, sempre!
E aí, você gostou das dicas de como melhorar a cultura organizacional e a gestão de pessoas em organizações públicas? Deixe um comentário com a sua opinião, queremos saber!
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