A pesquisa de Benchmarking do Investimento Social Corporativo (BISC), lançada nesta quinta-feira (01), pela Comunitas revela que os investimentos sociais permaneceram no mesmo patamar dos anos anteriores, na margem de 2,6 bilhões, contrariando a queda esperada para o período.
Quando comparado com o padrão internacional, medido pelo CECP, o país está um pouco à frente, com 0,89% dos lucros brutos investidos, contra 0,84% nos Estados Unidos. “É uma boa notícia, sobretudo por conta do cenário político e econômico que o Brasil vem atravessando”, pontuou a coordenadora da pesquisa, Anna Peliano. Um reflexo dessa crise econômica, porém, foi refletida na participação dos incentivos fiscais, que registou uma queda de 32% em relação aos valores aplicados no ano anterior.
De modo geral, uma minoria das empresas (36%) conseguiu aumentar seus investimentos. Apesar disso, a mediana dos investimentos no lucro líquido passou de 2,18%, para 3,09%.
Outra boa notícia é que mais de 60% das empresas e institutos têm alinhado seus investimentos aos negócios. Boa parte desses recursos, 48%, é destinada às áreas de Educação e Cultura, com projetos voltados para jovens, crianças e comunidades de entorno.
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS
O BISC, realizado anualmente pela Comunitas, tem como tema este ano os ODS – que foram aprovados pela Cúpula das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável em 2015 e propõem uma agenda global com medidas transformadoras e sustentáveis que combatam as mudanças climáticas, erradiquem a pobreza, promovam a prosperidade e o bem-estar de todos até 2030.
Com esse tema, o intuito do BISC é entender como as empresas estão integrando seus investimentos sociais à agenda global. De acordo com os resultados, um terço das empresas já está trabalhando nessa direção e 43% têm interesse em incorporá-los futuramente. “As empresas são motivadas a isso por reconhecerem os impactos que os ODS podem gerar no planeta e devido à importância atribuída pela sociedade. Ou seja, o setor privado se envolverá mais à medida que a sociedade estiver mobilizada e pressionar pela adesão à agenda”, frisou Anna.
Sobre a contribuição dos investimentos sociais para os ODS, os negócios identificaram que podem auxiliar especificamente em educação de qualidade (39%), saúde de qualidade (16%) e empregos dignos e crescimento econômico (14%). E para engajar fornecedores às causas sociais, 74% dos respondentes afirmaram promover atividades que podem ser utilizados para mobilizá-los em prol do alcance dos ODS, por meio de promoção de debates, materiais informativos e monitoramento das atividades desenvolvidas, dentre outros.
Já os principais desafios apontados pelo grupo para integrar os negócios à agenda ODS são: engajar as diversas unidades da empresa; garantir recursos financeiros para investir em novos projetos alinhados aos ODS e alcançar a escala necessária; definir indicadores e produzir as informações indispensáveis à avaliação dos resultados. E dentre os benefícios gerados com a adoção a essa agenda são: alinhamento da atuação social com a agenda pública e com o planejamento global para o desenvolvimento; melhorias das condições sociais; identificação de novas oportunidades de negócios sociais; visibilidade dos compromissos da empresa com a sustentabilidade; e fortalecimento das relações com as organizações da sociedade civil.
“Com os resultados da pesquisa, percebemos que as empresas estão buscando se informar e se articular para aderir a essa agenda global. E esse é um dos papeis da Comunitas. Esperamos contribuir com esses dados, principalmente com o aprimoramento dos investimentos sociais”, concluiu a pesquisadora.
Universo pesquisado
Em 2015, a pesquisa abrangeu 325 organizações, assim distribuídas:
- 13 conglomerados que respondem por um total de 292 empresas;
- 7 empresas que respondem individualmente;
- 23 fundações vinculadas a instituições empresariais;
- 1 instituto independente;
- 1 federação de empresas do setor industrial;
- 1 instituição de direito privado sem fins lucrativos.
Roda de debates
Logo após a apresentação da pesquisadora, com os principais dados do BISC 2016, foi realizado um debate entre Ieva Lazareviciute, representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Aron Belink, do Programa Desempenho e Transparência do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVCes), Sérgio Andrade, diretor-executivo da Agenda Pública, Beatriz Martins Carneiro, secretária-executiva da Rede Brasil do Pacto Global e Luan Santos, assessor técnico do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). A roda de conversa foi mediada pelo jornalista e diretor Brasil da GlobeScan, Álvaro Almeida.
O grupo acredita que a Agenda 2030 propõe uma reconexão entre os diversos atores: governos, setor corporativo, institutos, academia e sociedade civil. “O setor privado tem um papel relevante nesse processo”, frisou Beatriz. Sérgio chamou a atenção para o fato das empresas estarem focadas numa política estruturante, que dialogue com as políticas públicas. “Precisamos avaliar a qualidade desse alinhamento dos investimentos aos ODS”, opinou. “Temos que reforçar a narrativa de que há uma relação entre todos”, complementou Aron.
Nesse sentido, a responsabilidade governamental na adoção a essa agenda também é relevante na opinião dos debatedores. “Temos uma agenda de bens públicos e o governo também tem um papel essencial nisso. Existe a necessidade de criarmos mecanismos estruturantes que possam qualificar a implementação da agenda ODS”, comentou Sérgio. “A inovação é a chave da mudança”, observou Ieva.
Na visão dos grupo, a agenda ODS ainda está sendo discutida só nas grandes empresas. “Se olharmos para pequenos empreendimentos, o cenário é outro. O nosso desafio é como engajar não só grandes empresas, mas fazer com que elas se tornem instrumentos para que possamos alcançar toda uma cadeia de fornecimento”, opinou Luan.
Sobre a mitigação de impactos negativos do negócio no meio ambiente e na sociedade, o grupo acredita que as áreas econômico-financeira da empresa precisarão passar por uma reestruturação para que os aspectos econômicos, sociais e ambientais possam, de fato, se interligarem. “Não temos mais como pensar em ações como filantropia”, comentou Luan. E, na visão de Aron, para conquistar avanços nessa integração, buscar o apoio em institutos de sustentabilidade é um caminho.
Confira a versão completa da pesquisa clicando aqui.
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