Debate, que abriu a primeira roda de conversas do 12º Encontro de Líderes, colocou em pauta temas essenciais para a governança urbana
O 12º Encontro de Líderes, realizado pela Comunitas na última sexta-feira (25), reuniu dois exemplos de membros da sociedade civil que participam ativamente do debate sobre o desenvolvimento econômico e social do Brasil: Luciano Huck, apresentador e empresário, e Carlos Jereissati Filho, presidente do Grupo Iguatemi e membro da governança da Comunitas. A conversa, moderada pelo jornalista Fábio Zambeli, tratou de diversos temas relacionados ao amadurecimento das relações entre cidadãos e gestão pública – com foco, principalmente, no protagonismo dos primeiros.
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Huck pontou sua fala com diversas cenas da vida real, que colecionou ao longo das últimas duas décadas, percorrendo o interior do país. São exemplos de cidadãos que buscam, em seu dia a dia, ajudar a melhorar a vida de suas comunidades, mesmo em meio à precariedade de recursos.
Ele destacou a importância da participação de todos para fortalecer e qualificar as discussões. “Acho que essa contribuição como cidadão, como sociedade civil, essa soma de forças que precisamos não apenas no Brasil, mas em vários lugares do mundo, para repensar como a democracia pode de fato melhorar a vida de todos e não só de alguns, é uma missão de todos nós”, disse.
Jereissati Filho fez eco às palavras de Huck, ao comentar a importância do modelo de atuação do Programa Juntos, da Comunitas, e a necessidade de, ao trabalhar pelo desenvolvimento do país, elevar o conceito de sociedade sobre o de indivíduo. “Um dos grandes diferenciais do Programa Juntos é o trabalho da governança compartilhada. Mostra uma maturidade da relação da iniciativa privada com o setor público”, disse. “Hoje em dia, só cada vez mais trabalhando em conjunto seremos capazes de encontrar soluções que durem, possam ser replicadas e mudem a realidade e a conjuntura brasileira.”
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A renovação dos quadros
Nos últimos anos, o cenário para a formação de novas lideranças tornou-se bastante fértil na iniciativa privada – o que não ocorreu na esfera do governo. Huck chamou a atenção para este fato, lembrando que há grandes lideranças na gestão pública, hoje, mas que é urgente preparar o caminho para as próximas gerações – papel que vem sendo exercido por muitos conjuntos cívicos no Brasil, por exemplo. “A convocação que eu faço não é pessoal, é geracional”, disse Huck. “Precisamos bater palma para quem quer ser político.”
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A transformação das relações também deverá influenciar o papel dos gestores públicos no futuro, lembrou Jereissati Filho. Cada vez mais, a desintermediação é a regra, levando o protagonismo das empresas para os consumidores e dos governos para os cidadãos. “O futuro é devolver poder ao cidadão. Isso é desafiador, pois exige o altruísmo de quem está na vida privada e na vida pública, o que não é natural de quem gosta de ter o protagonismo”, disse Jereissati Filho. “É para onde estamos indo, não tem volta; precisamos dessa conscientização. Isso amplia a responsabilidade do trabalho conjunto.”
Desigualdade e afetividade
Huck tratou da desigualdade no Brasil em boa parte de sua fala – e deixou clara a importância de ampliar a abrangência do debate. “Desigualdade também se discute na Faria Lima. Mas não só na Faria Lima”, disse, em referência ao símbolo do mercado financeiro de São Paulo. “Não adianta ficar só entre nós, discutindo; é preciso ouvir a voz das comunidades.”
Huck citou a situação atual no Chile como exemplo de lição a ser aprendida. O país, um exemplo bem-sucedido de políticas liberais, teria esquecido das pessoas. “Precisamos tentar construir um país eficiente, mas ele precisa ser afetivo”, disse. “Se não cuidarmos das pessoas, esse país [o Brasil] vai implodir, porque é muito desigual.” Huck afirmou concordar com as teses liberais, mas reforçou a importância da política pública, capaz de alcançar os cidadãos mais vulneráveis.
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“Se o Brasil estiver crescendo, for mais eficiente, desburocratizado, com juros baixo, acesso ao crédito e você puder sair na rua e não ser assaltado, está bom. Está tudo certo. Mas há outro lado de São Paulo e do Brasil que precisa de muita atenção. E o Estado vai, sim, ter que participar; e vamos precisar de políticas de proteção social de fato”, disse Luciano Huck. “A educação é a mais poderosa ferramenta de redução de desigualdade. E é nisso que temos que trabalhar fortemente.”
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