A agenda do dia incluiu aulas sobre a interação entre polícia e comunidade, além de uma visita ao Departamento de Correções de Nova Iorque para compreender as práticas de reintegração e reabilitação no sistema prisional
Hoje (14), aconteceu o penúltimo dia da formação internacional em segurança pública, uma ação que visa a capacitação de lideranças públicas e privadas com vistas ao fortalecimento da segurança territorial por meio de políticas inovadoras, governança e parcerias intersetoriais. A iniciativa é realizada a partir de uma parceria entre a Comunitas e a Picker Center Foundation da School of International and Public Affairs (SIPA) da Universidade de Columbia.
A agenda do dia teve início com a aula do professor e estrategista político, Basil Smikle, sobre “Comunicação Política, Reforma Policial e Políticas Públicas”. No encontro, os participantes tiveram a oportunidade de aprender sobre como a comunicação estratégica pode moldar as percepções públicas sobre a reforma policial e influenciar as políticas voltadas para a segurança pública. Em seguida, o professor Smikle ministrou a aula de “Policiamento Comunitário e Movimentos de Reforma”, em que apresentou estratégias para fortalecer a interação entre a polícia e a comunidade, promovendo uma abordagem mais colaborativa e focada na resolução de problemas locais.
O dia foi encerrado com uma visita de campo ao Departamento de Correções e Supervisão Comunitária (DOCCS), em que os participantes puderam ter uma visão prática sobre as operações e os desafios enfrentados pelo sistema correcional, oferecendo uma oportunidade de entender melhor as estratégias de segurança e os protocolos adotados dentro do ambiente carcerário. A visita também permitiu observar como as políticas e práticas de segurança são implementadas no contexto prisional, aprofundando a compreensão dos desafios logísticos e sociais desse setor.
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Comunicação política, reforma policial e políticas públicas
Na aula do professor Basil, foram discutidas práticas de comunicação para fortalecer o apoio comunitário e a confiança nas forças de segurança. Smikle abordou os desafios enfrentados por líderes do setor público ao se comunicarem com jovens, que hoje consomem notícias por plataformas como TikTok e YouTube, ao invés da mídia tradicional. Ele ressaltou a necessidade de adaptar a comunicação para engajar essa nova geração, que tende a confiar mais em influenciadores do que em veículos de notícias convencionais.
“As novas gerações consomem informações principalmente online, através das redes sociais. No entanto, a proliferação de fake news no ambiente digital é um dos maiores desafios para a comunicação governamental. Para garantir que as informações corretas cheguem à população e sejam acreditadas, os governos precisam ser ágeis na divulgação de seus conteúdos. A demora em comunicar informações precisas abre espaço para a disseminação de notícias falsas, o que dificulta a gestão da crise e exige um esforço adicional para desmentir informações erradas”, explicou ele.
A competição e os conflitos no setor público também foram abordados, especialmente com relação ao uso de métricas e padronizações para influenciar o comportamento social. Smikle mencionou exemplos como as classificações de restaurantes criadas por Michael Bloomberg e a proposta de taxação de bebidas açucaradas, que ilustram como políticas públicas podem moldar percepções e gerar debates sobre responsabilidade social.
Outro ponto foi o uso de branding na política, onde líderes e partidos constroem suas marcas para mobilizar e influenciar o público. Ele destacou como o ex-presidente Barack Obama criou uma marca própria para engajar eleitores, especialmente jovens, e comentou a importância de narrativas emocionais para estabelecer conexão com o público.
Por fim, Smikle enfatizou o engajamento cívico entre os jovens e os desafios de promover ação coletiva em um contexto de diversidade de opiniões. Com a substituição dos gatekeepers (controladores de acesso, em tradução livre) tradicionais por plataformas digitais, entender a psicologia do público se torna fundamental para engajar e inspirar uma participação cívica efetiva.
Policiamento comunitário e movimentos de reforma
Na segunda aula do dia, o professor Basil Smikle abordou a relação entre policiamento comunitário e reformas no sistema de justiça, destacando a desigualdade racial nas abordagens de segurança pública. Ele apontou a disparidade na cobertura da mídia de crimes envolvendo pessoas negras e brancas, e a necessidade de reformas, como a revisão das sentenças e fianças, para evitar o encarceramento desproporcional de jovens negros por crimes menores.
Smikle também discutiu a importância de um treinamento mais eficaz para policiais, o uso de tecnologia e câmeras para garantir responsabilidade e a revisão da imunidade policial, que dificulta a punição de abusos. Ele criticou a falta de clareza na comunicação das reformas de segurança pública pelos democratas, que dificultou a implementação de políticas eficazes.
Além disso, o professor mencionou as origens do policiamento no sul dos EUA, com raízes nas patrulhas de escravos, e como isso ainda impacta as desigualdades nas prisões. Ele destacou a necessidade de um novo consenso político em cidades como Nova Iorque para resolver problemas de segurança pública e justiça social, apesar dos grandes orçamentos disponíveis.
Basil também enfatizou a necessidade de uma abordagem mais holística para a segurança pública, incluindo programas de apoio à saúde mental e o recrutamento de policiais das comunidades afetadas, visando aumentar a confiança entre a polícia e a população e reduzir a violência.
Visita de campo – Departamento de Correções da Cidade de Nova York (DOC)
O Departamento de Correções e Supervisão Comunitária (DOCCS) de Nova Iorque gerencia 44 prisões e supervisiona cerca de 25.100 pessoas em liberdade condicional, com foco na reabilitação e reintegração social dos detentos. Alinhado aos princípios da APPA (American Probation and Parole Association, da sigla em inglês), o DOCCS busca reduzir a reincidência por meio de programas educacionais e de treinamento, visando construir comunidades mais seguras.
Entre os desafios enfrentados, estão a superlotação, a resistência cultural interna e a falta de recursos, além da integração das áreas do sistema de justiça criminal. Para superar isso, o DOCCS implementou uma abordagem integrada, incluindo capacitação de funcionários e programas de reintegração.
Programas como o “Tempo de Mérito” e a “Liberação Presuntiva” oferecem alternativas de redução de pena para presos comprometidos com a reabilitação. O departamento também adota práticas baseadas em evidências, como o “Earned Eligibility Program” (Programa de Elegibilidade Conquistada, em tradução livre), para permitir a liberação antecipada de indivíduos que participam ativamente dos programas.
O programa de supervisão comunitária obteve 81% de sucesso em 2020 na reintegração dos libertos, e a crescente demanda por avaliações de liberação condicional, com aumento de 6,7% em 2023, demonstra a confiança no sistema.
Desenvolvimento de lideranças
O desenvolvimento de lideranças públicas é fundamental para o desenvolvimento do Brasil. Líderes públicos capacitados e engajados são capazes de tomar decisões estratégicas, implementar políticas públicas eficazes e promover a inovação no setor público.
Por isso, desde 2018 a Comunitas oferece programas de formação internacional exclusivos para líderes públicos e privados brasileiros. Em parceria com as mais renomadas universidades do mundo, como Stanford, Columbia e Johns Hopkins, o projeto visa proporcionar uma experiência única de aprendizado e desenvolvimento.
Abordando temáticas que são escolhidas a partir das demandas da própria Rede da organização, as formações oferecem aos gestores a possibilidade de ampliar sua visão ao adquirir uma perspectiva global sobre os desafios e oportunidades da gestão pública contemporânea. Além disso, o programa permite o desenvolvimento de habilidades para liderar equipes e implementar políticas públicas inovadoras, fortalecendo sua capacidade de impacto.
Quem participa?
Entre os selecionados para participar desta edição do programa de formação internacional, destacam-se o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e os líderes do legislativo federal, os deputados Pedro Paulo Teixeira (RJ), Renan Ferreirinha (RJ) e Tabata Amaral (SP). Também estão presentes os prefeitos João Campos, de Recife (PE), e Rodrigo Neves, de Niterói (RJ), além dos vice-prefeitos eleitos do Rio de Janeiro, Eduardo Cavaliere, e de São Paulo, Coronel Mello Araújo.
Também foram selecionados para participar da ação diversos secretários estaduais, como Álvaro Duboc, da Economia e Planejamento do Espírito Santo; Antônio Videira, da Justiça e Segurança Pública do Mato Grosso do Sul; César Roveri, da Segurança Pública do Mato Grosso; Roberto Sá, da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará; e Marcel Beghini, Secretário-geral de Minas Gerais, bem como líderes de órgãos públicos, como a Procuradora Geral do Estado de São Paulo, Inês Coimbra; e o pesquisador o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), Daniel Cerqueira.
Representantes do Núcleo de Governança da Comunitas também também estão presentes, a exemplo de Carlos Jereissati (Grupo Iguatemi) e Luiz Ildefonso Simões Lopes (Brookfield Brasil), acompanhados pelos parceiros institucionais Rafael Poço, Diretor-Executivo do Instituto de Filantropia Corporativa Galo da Manhã, e Fernando Schuler, professor do Insper e coordenador acadêmico do Mapa da Contratualização, bem como o jornalista da Revista Exame, Léo Branco.
Representando a Comunitas, estarão presentes a presidente da organização, Regina Esteves; a Diretora de Comunicação, Conhecimento e Inovação, Dayane Reis; a Diretora de Gestão e Investimento Social, Patricia Loyola; e a Diretora de Estratégias e Parcerias, Ronyse Pacheco.
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