A Comunitas reuniu importantes especialistas para debater temas que preocupam gestores públicos em mais uma conferência digital
“Quando o assunto é a retomada da educação, não podemos olhar somente para a questão pedagógica, mas de todo o papel social que a escola responde em uma comunidade”. Essa foi uma das falas de Wanderson Oliveira, epidemiologista e ex-Secretário Nacional de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, durante conferência digital realizada ontem (13) pela Comunitas para debater o tema.
“A pauta da educação é o que mais mexe conosco da Comunitas, por que impacta na vida de milhões de crianças. Acredito que a Covid-19 deixará um aprendizado de que não existe protocolo ou pacto individual, pois só conseguimos superar a pandemia com um compromisso coletivo entre todas as esferas da sociedade“, disse a diretora-presidente da Comunitas, Regina Esteves.
Além de Wanderson, também participaram do encontro virtual Marlova Noleto, diretora e representante da UNESCO no Brasil; Haroldo Rocha, secretário executivo de Educação do Estado de São Paulo; Faisal Karam, secretário de Educação do Estado do Rio Grande do Sul; e Bruno Caetano, secretário municipal de Educação de São Paulo. A mediação ficou à cargo de Fábio Zambeli, analista-chefe do Jota.
Durante o encontro, os especialistas concordaram que é fundamental debater a abertura das escolas, pois os desafios postos pela pandemia na área de educação são para além da perda pedagógica dos estudantes, mas perpassam os campos socioeconômico, emocional e alimentar. Mas também foi consenso entre o grupo a importância de um trabalho articulado e alinhado entre a área de Saúde e Educação para determinar o melhor momento de retorno – e isso deve ser realizado de forma local.
Em sua fala, Wanderson compartilhou dados obtidos no levantamento que anda desenvolvendo acerca dos impactos das paralisações das aulas. Segundo o especialista, 30% das crianças em quarentena desenvolvem transtorno psicológico; 83% que já possuem algum problema de saúde mental relatam piora (segundo estudo americanos); e ainda houve aumento de 50% de denúncia de violência doméstica após fechamento das escolas (no Rio de Janeiro. Além disso, o especialista relatou que podem haver prejuízos econômicos na ordem de 1% do PIB com o fechamento das escolas.
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“Precisamos equilibrar o debate sobre o retorno das aulas, e deixar claro também que a decisão final de voltar ou não é dos pais. E por isso, é necessário colocar o assunto na mesa e instrumentalizá-los para que tomem a decisão com mais segurança”, acredita.
Para o secretário Bruno, é importante preparar a escolar com todos os protocolos de segurança possíveis, visando otimizar o tempo para o retorno escolar. “Sabemos que nada substitui a escola, a interseção professor-aluno ou aluno-aluno. Não estamos falando em abrir as escolas sem nenhuma preparação e segurança, mas, sim, que não percamos nenhum dia de aula que não tivermos que perder”, afirmou.
Já para Haroldo, um ponto essencial no debate é o acolhimento também dos professores. “São os docentes que estarão na linha de frente, e eles também tem desafios em casa, com a família. Precisamos estabelecer garantias para a sua volta”, disse. Segundo ele, o Estado de São Paulo tem avançado no objetivo de cada escola possuir um comitê formado por um professor, um servidor e um responsável por aluno, com o intuito exclusivo de fiscalizar o cumprimento dos protocolos de segurança.
Em sua fala, o secretário Faisal trouxe outra problemática decorrente da pandemia que impacta diretamente a educação pública: a perda de renda da população, que tem como consequência a retirada de alunos das escolas particulares que reflete no aumento da demanda da rede pública.
A Unesco, organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, estima que 1,6 bilhão de estudantes de todo o mundo foram afetados pela pandemia. Para a diretora e representante do órgão no Brasil, além de realizar um debate transversal entre as áreas sanitárias e educacionais, é fundamental, também, o diálogo com todos os integrantes da comunidade escolar, como professores e familiares dos alunos. “Esse não é um trabalho simples. É de extrema complexidade, e precisamos de planejamento e organização, pois, quanto maior o tempo que as crianças e jovens ficam fora da escola, maior chance de evasão”, explicou.
A sistematização do debate ficará disponível em breve na nossa plataforma de conhecimento em gestão pública: www.redejuntos.org.br.
Clique e assista ao debate completo:
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