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Segundo dia do programa de formação internacional aborda estratégias de prevenção e combate ao crime organizado transnacional

Com foco em casos práticos e troca de experiências, o curso busca fortalecer a capacidade de gestores públicos em enfrentar desafios complexos como a violência urbana, o tráfico de drogas e a corrupção

Crédito da Imagem: Acervo Comunitas

Hoje (12), aconteceu o segundo dia do programa de formação internacional em segurança pública, promovido pela Comunitas em parceria com a Picker Center Foundation, da School of International and Public Affairs (SIPA) da Universidade de Columbia. O objetivo da iniciativa é promover conhecimento em relação a práticas internacionais que possam melhorar a segurança de territórios por meio de políticas inovadoras, governança e parcerias intersetoriais.

O curso intensivo, com duração de cinco dias, é realizado na Universidade de Columbia. Seu propósito é fortalecer os participantes para estabelecer prioridades, planejar ações e construir parcerias efetivas, potencializando-os como agentes implementadores de políticas eficazes voltadas para o enfrentamento da violência. O programa de formação internacional seguirá até o fim desta semana (15) e conta com 24 pessoas na comitiva, entre lideranças dos setores público e privado.

A programação do dia focou em estratégias de prevenção e combate ao crime organizado transnacional. A programação iniciou com a aula do Representante Permanente da Colômbia na Organização dos Estados Americanos; Pesquisador Visitante Residente na Washington College of Law; e Professor da Universidad Externado de Colombia, Andrés González Diaz, sobre “A Experiência Colombiana com o Crime Relacionado às Drogas”. Em seguida, a Professora Adjunta de Assuntos Internacionais e Públicos; Fundadora da Clovis Quantum Solutions e da McAvoy Legal Services, Annemarie McAvoy, conduziu a aula “Prevenção e Detecção do Crime Organizado Transnacional na América Latina”, onde discutiu métodos para lidar com organizações criminosas na região.

Durante a tarde, o Professor Adjunto de Assuntos Internacionais e Públicos do Picker Center for Executive Education, Zach Tumin, e o Comissário Assistente de Análise de Mídias Sociais (Aposentado), Kevin O’Connor, apresentaram “Estratégia e Gestão da Polícia: Ferramentas e Perspectivas Fundamentais”, abordando as ferramentas necessárias para uma gestão policial eficiente. Para encerrar o dia, o Professor de Columbia na Prática de Assuntos Públicos, Steve Cohen, ministrou a aula “Abordagens para o Combate ao Desmatamento Ilegal, Mineração e Tráfico”, oferecendo uma visão sobre o combate a atividades criminosas que impactam o meio ambiente.

A experiência colombiana com o crime relacionado às drogas

A aula do professor Andrés González Díaz trouxe um panorama complexo e alarmante sobre a violência na América Latina, com foco na Colômbia, país que lidera diversos indicadores de criminalidade, e enfrenta o desafio de controlar mercados ilícitos e o crime organizado. Segundo ele, a “trilogia da violência” no país inclui a exploração de mercados ilegais, a presença de grupos armados e a desigualdade social. Esses fatores, somados à impunidade e ao enfraquecimento institucional, formam um ambiente que favorece a violência. Com o modelo de produção de cocaína evoluindo para um sistema agroindustrial, áreas periféricas e de fronteira tornaram-se focos de conflitos entre grupos armados, como as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), paramilitares e gangues locais.

A localização estratégica da Colômbia torna o país um “corredor” para o tráfico de drogas internacional, o que agrava a situação. O professor ressaltou que o controle territorial é essencial para enfrentar o crime, sobretudo em áreas como a Amazônia, onde o tráfico e a presença de grupos armados aumentam a complexidade da governança. Ele apontou que o Brasil e outros países também lidam com economias ilícitas, como o tráfico de cocaína e a mineração ilegal, que intensificam a violência e as disputas territoriais.

Durante a aula, foram apresentadas abordagens para o combate à violência, como a reforma do sistema judicial, o controle territorial e políticas públicas integradas que levem em conta os aspectos sociais, econômicos e de segurança. Andrés enfatizou a necessidade de equilibrar políticas de segurança pública com justiça restaurativa e ações sociais, além de desintegrar economias ilícitas e regular o mercado de armas para fortalecer o controle estatal.

A experiência da Colômbia com negociações de paz, como as realizadas com as FARC, e a implementação de uma justiça transnacional voltada à reparação das vítimas mostram a importância de uma abordagem política inclusiva e de longo prazo. Segundo o professor, a cooperação internacional e a troca de experiências entre os países da região são fundamentais para enfrentar a violência de forma coordenada. Ele sugeriu que a América Latina, em parceria com os Estados Unidos, desenvolva uma política continental para reduzir os índices de homicídio e combater o crime organizado com maior eficácia.

“O caso da Colômbia destaca a necessidade de políticas públicas que integrem força, justiça e ação social, com a participação ativa de todos os níveis de governo e uma abordagem contínua de diálogo. Para construir uma sociedade mais justa e pacífica na América Latina, é necessário reduzir a desigualdade social e fortalecer as instituições, adotando uma abordagem multidisciplinar e de longo prazo”, finalizou ele.

Prevenção e detecção do crime organizado transnacional na América Latina

A aula ministrada por Annemarie McAvoy sobre a prevenção e detecção do crime organizado transnacional (COT) na América Latina revela a complexidade e a gravidade desse fenômeno. O COT é caracterizado por operações que transcendem fronteiras nacionais, envolvendo atividades ilícitas que vão desde o tráfico de drogas até o contrabando de seres humanos. Esses grupos frequentemente mobilizam enormes somas de dinheiro, colocando-se como adversários perigosos para as autoridades e sociedades.

O crime organizado transnacional envolve uma série de atividades ilícitas que operam em uma escala multinacional, sendo impulsionado por fatores como a ganância, a corrupção endêmica e a falta de educação. McAvoy destaca que esses grupos se aproveitam de contextos econômicos desfavoráveis, como a pobreza e a escassez de oportunidades, tornando indivíduos mais vulneráveis à exploração. Ela também aponta que a corrupção nas instituições governamentais, juntamente com a presença de gangues e a escassez de empregos, cria um ambiente favorável ao recrutamento de populações vulneráveis, especialmente em áreas remotas e carentes. 

No Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC), que foi fundado em 1993, é o principal grupo criminoso, operando em mais de 16 países e gerando bilhões com o tráfico de cocaína. Suas conexões incluem traficantes do Peru, Paraguai e Bolívia, além de vínculos com as FARC e máfias na Itália e na África. A Amazônia, com suas rotas de contrabando, alimenta conflitos territoriais entre facções como o PCC, Comando Vermelho e Família do Norte. 

“Ao nos unirmos como uma comunidade de agentes da lei para localizar e prender com sucesso esses fugitivos além das fronteiras estaduais, enviamos uma mensagem clara e poderosa: estamos comprometidos em desmantelar essas redes criminosas violentas e erradicar a ilegalidade que elas propagam”, explicou. 

Crédito da Imagem: Acervo Comunitas

A professora destacou que as mudanças políticas, como a ascensão de novos líderes (por exemplo, a vitória de Donald Trump nos EUA), podem impactar significativamente a dinâmica do crime organizado. As políticas de fechamento de fronteiras e deportação propostas pelo governo Trump podem ter repercussões diretas nas rotas de tráfico e na maneira como os países da América Latina interagem com os EUA. A cooperação entre governos é essencial, mas muitas vezes é dificultada por agendas políticas divergentes.

McAvoy também destacou como a evolução tecnológica vem desempenhando um papel fundamental na transformação do crime organizado. Ela menciona que, enquanto no passado as evidências eram frequentemente encontradas em vídeos, hoje, essas provas são questionadas quanto à sua autenticidade. O uso de criptomoedas e tecnologias de blockchain introduz novos desafios e oportunidades na luta contra o COT. Embora as criptomoedas possam facilitar o movimento de dinheiro fora do alcance das autoridades, a transparência do blockchain também pode ser utilizada para rastrear transações ilícitas.

Para combater eficazmente o crime organizado transnacional, McAvoy sugere uma abordagem multifacetada. Ela propõe, primeiramente, a redução das condições que favorecem a criminalidade, por meio de políticas que promovam o crescimento econômico e a criação de oportunidades de emprego, além de investimentos em áreas essenciais como infraestrutura, saúde e educação, a fim de criar um ambiente mais estável e menos suscetível à exploração criminosa. McAvoy também destaca a importância de atender às necessidades sociais básicas, como educação e saúde, para desestimular o envolvimento em atividades criminosas. Programas de educação de qualidade e o acesso a serviços de saúde mental e física podem oferecer alternativas viáveis, especialmente para os jovens em áreas afetadas pelo crime.

Além disso, ela enfatiza a necessidade de uma forte cooperação internacional, com a colaboração entre países para o compartilhamento de informações e estratégias, criando estruturas bilaterais e multilaterais que possibilitem uma resposta coordenada ao crime organizado transnacional. Isso inclui tratados de extradição e acordos de cooperação em investigações criminais. 

A integração do setor privado também é vista como fundamental. A professora sugere que instituições financeiras e setores privados, como empresas de criptografia, serviços monetários e cassinos, atuem como aliados na luta contra a lavagem de dinheiro e outras fraudes. A colaboração com essas entidades pode envolver a criação de protocolos para que relatem atividades suspeitas às autoridades competentes.

Por fim, ela defende a adoção de uma abordagem progressiva nas ações penais, começando com a captura de criminosos de baixo nível e avançando até os líderes das organizações criminosas. A obtenção de informantes e a infiltração em grupos criminosos são táticas eficazes para revelar a estrutura interna do crime organizado e possibilitar ações mais amplas e coordenadas contra essas redes ilícitas.

Crédito da Imagem: Acervo Comunitas

Estratégia e Gestão da Polícia: Ferramentas e Perspectivas Fundamentais

Ministrada por Kevin O’Connor, a aula discutiu o uso crescente da inteligência artificial (IA) e das redes sociais na segurança pública, destacando seu trabalho desenvolvido na polícia de Nova York. Ele relatou como, inicialmente, as redes sociais eram vistas como ferramentas para capturar criminosos, mas que, com o tempo, se tornaram vitais para monitorar atividades criminosas em tempo real. Usando dados públicos de plataformas como Twitter e Facebook, a polícia foi capaz de identificar membros de gangues e até resolver crimes sem precisar ir ao tribunal, focando na geolocalização e nas provas fornecidas online

Além disso, Kevin discutiu a importância de ferramentas como o Compstat (metodologia que integra tecnologia, estatísticas e gestão policial para reduzir o crime e melhorar a segurança pública), que ajudam a medir o sucesso das operações policiais através da análise de dados estatísticos sobre crimes em diferentes áreas.

Crédito da Imagem: Acervo Comunitas

Zach Tumin complementou a conversa com sua apresentação sobre o poder da IA na segurança pública, destacando cinco capacidades-chave dessa tecnologia: reconhecimento de padrões, mapeamento, personalização, otimização e reconhecimento de imagens/vozes. Tumin exemplificou como a IA pode ser usada para antecipar crimes e otimizar a resposta das autoridades, mas ressaltou que, para ser eficaz, a implementação da IA deve ser focada e bem definida, evitando abordagens genéricas. Ele também abordou os desafios de aplicar a IA no setor público, como a escassez de profissionais qualificados, sugerindo que é necessário capacitar gestores públicos e integrar startups e universidades para preencher essa lacuna.

Outros temas também foram abordados durante a aula, como a utilização de câmeras corporais, drones e sistemas de monitoramento como o ShotSpotter, que detecta sons de disparos. Tumin enfatizou que, embora essas tecnologias possam ser eficazes, elas não resolvem todos os problemas de segurança e, muitas vezes, “a melhor abordagem é preventiva, por meio de políticas que desencorajem o crime antes que este aconteça”. Ele ressaltou, entretanto, que a utilização de IA e outras tecnologias na segurança pública deve ser balanceada, levando em consideração os aspectos éticos e os possíveis impactos sobre a privacidade e as liberdades civis.

Abordagens para o combate ao desmatamento ilegal, mineração e tráfico

Crédito da Imagem: Acervo Comunitas

A aula do professor Steve Cohen abordou a gravidade da extração irregular de madeira e da mineração ilegal, dois problemas ambientais e sociais de grande impacto, especialmente nas regiões tropicais e em áreas protegidas como a Amazônia. O professor destacou que a extração de madeira, que é um crime transnacional importante, é responsável por até 30% da produção global de madeira, com um valor estimado de comércio ilegal entre US$ 50 bilhões a US$ 150 bilhões anuais. Este comércio resulta em sérios danos à biodiversidade, contribuindo para o desmatamento e a proliferação de doenças nas florestas, que, além disso, podem ser corrompidas quando madeiras legais e ilegais são misturadas, dificultando a rastreabilidade da origem da matéria-prima.

A mineração ilegal, especialmente na América Latina, foi comparada à “nova cocaína”, com grupos criminosos se envolvendo nesse mercado lucrativo, cujos danos ambientais são enormes. O ouro extraído de maneira ilícita frequentemente destrói ecossistemas sensíveis, como as terras indígenas, e leva ao envenenamento das águas por mercúrio. Em países como Brasil e Venezuela, essa modalidade criminal vem se consolidando como um enorme problema, com dados alarmantes sobre o aumento de áreas desmatadas, como no caso das terras Yanomami, na fronteira entre os dois países. A atividade ilegal também tem um alto custo econômico, com cada quilo de ouro extraído gerando danos ambientais de até US$ 325.000, muito mais do que o valor de mercado do minério.

A corrupção é um fator determinante que facilita essas atividades ilícitas, com a falta de fiscalização e a infiltração de criminosos em altos níveis do governo e da aplicação da lei. “Um ambiente corrupto permite que a exploração ilegal de recursos naturais continue sem grandes punições”, explicou Steve. 

Nesse sentido, o professor Cohen enfatizou a importância de entender o processo de corrupção, identificando pontos críticos em que ela pode ocorrer, como na produção, distribuição e venda de madeira ou ouro. A corrupção é mais difícil de rastrear em pequenos casos, mas sua abrangência é considerável, contribuindo para a expansão de grupos criminosos armados e até terroristas, que financiam suas atividades por meio desses crimes ambientais.

Na luta contra esses crimes, o professor destacou os esforços do governo brasileiro, especialmente durante o mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, que colocou o combate à mineração ilegal e ao desmatamento como prioridade máxima. Em 2023, as forças brasileiras desmantelaram centenas de campos de mineração ilegal na Amazônia, restaurando o controle sobre áreas protegidas, como as terras Yanomami. O compromisso do Brasil também repercutiu em outros países da América Latina, como o Equador, onde foi realizada uma operação binacional com a Colômbia para combater a mineração ilegal. Porém, apesar desses avanços, o combate ainda enfrenta grandes desafios, com garimpeiros retornando a áreas após a diminuição das operações.

Por fim, Cohen defendeu que o problema da mineração e da exploração madeireira ilegal é complexo e global, envolvendo questões de corrupção, impactos ambientais irreversíveis e dificuldades na aplicação da lei. A localização remota das áreas afetadas, somada à falta de poder e recursos das populações locais, torna a tarefa de combater esses crimes ainda mais desafiadora. Ele também destacou que não há soluções fáceis ou de baixo custo para resolver essas questões, e que é necessário um esforço coordenado e contínuo para enfrentar essa ameaça global.

Desenvolvimento de lideranças

O desenvolvimento de lideranças públicas é fundamental para o desenvolvimento do Brasil. Líderes públicos capacitados e engajados são capazes de tomar decisões estratégicas, implementar políticas públicas eficazes e promover a inovação no setor público.

Por isso, desde 2018 a Comunitas oferece programas de formação internacional exclusivos para líderes públicos e privados brasileiros. Em parceria com as mais renomadas universidades do mundo, como Stanford, Columbia e Johns Hopkins, o projeto visa proporcionar uma experiência única de aprendizado e desenvolvimento.

Abordando temáticas que são escolhidas a partir das demandas da própria Rede da organização, as formações oferecem aos gestores a possibilidade de ampliar sua visão ao adquirir uma perspectiva global sobre os desafios e oportunidades da gestão pública contemporânea. Além disso, o programa permite o desenvolvimento de habilidades para liderar equipes e implementar políticas públicas inovadoras, fortalecendo sua capacidade de impacto.

Quem participa?

Entre os selecionados para participar desta edição do programa de formação internacional, destacam-se o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e os líderes do legislativo federal, os deputados Pedro Paulo Teixeira (RJ), Renan Ferreirinha (RJ) e Tabata Amaral (SP). Também estão presentes os prefeitos João Campos, de Recife (PE), e Rodrigo Neves, de Niterói (RJ), além dos vice-prefeitos eleitos do Rio de Janeiro, Eduardo Cavaliere, e de São Paulo, Coronel Mello Araújo.

Também foram selecionados para participar da ação diversos secretários estaduais, como Álvaro Duboc, da Economia e Planejamento do Espírito Santo; Antônio Videira, da Justiça e Segurança Pública do Mato Grosso do Sul; César Roveri, da Segurança Pública do Mato Grosso; Roberto Sá, da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará; e Marcel Beghini, Secretário-geral de Minas Gerais, bem como líderes de órgãos públicos, como a Procuradora Geral do Estado de São Paulo, Inês Coimbra; e o pesquisador o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), Daniel Cerqueira. 

Representantes do Núcleo de Governança da Comunitas também também estão presentes, a exemplo de Carlos Jereissati (Grupo Iguatemi) e Luiz Ildefonso Simões Lopes (Brookfield Brasil), acompanhados pelos parceiros institucionais Rafael Poço, Diretor-Executivo do Instituto de Filantropia Corporativa Galo da Manhã, e Fernando Schuler, professor do Insper e coordenador acadêmico do Mapa da Contratualização, bem como o jornalista da Revista Exame, Léo Branco.

Representando a Comunitas, estarão presentes a presidente da organização, Regina Esteves; a Diretora de Comunicação, Conhecimento e Inovação, Dayane Reis; a Diretora de Gestão e Investimento Social, Patricia Loyola; e a Diretora de Estratégias e Parcerias, Ronyse Pacheco.

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