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Seminário sobre recursos hídricos debate gestão da água e seu uso sustentável

Encontro do Climate Hub|Rio destaca a importância do planejamento de políticas públicas integradas para a segurança hídrica e desenvolvimento sustentável

No palco, o diretor do braço da Universidade de Columbia no Brasil,  o professor Thomas Trebat. Crédito da Imagem: Acervo Comunitas

O Climate Hub|Rio, espaço da Universidade de Columbia no Brasil voltado para a produção de conhecimento relativo à questão climática, promoveu na última terça (30) o seminário “Água em foco: Como pensar em soluções sustentáveis para o uso da água?”, em parceria com a prefeitura do Rio de Janeiro e apoio da Comunitas.  

Em seu primeiro evento desde que o Hub foi lançado, em março de 2023, o objetivo foi reunir gestores públicos, pesquisadores, técnicos e estudantes com interesse no tema, a fim de promover um debate acerca da importância e desafios da gestão integrada dos recursos hídricos, bem como possibilidades sustentáveis para o uso da água.

O evento contou com dois painéis onde foram abordadas diferentes perspectivas sobre o tema, desde questões mais técnicas até assuntos mais sociais, tendo em vista também o impacto das mudanças climáticas na vida das pessoas e a gestão dos recursos hídricos.

Painel 1 – Desafios para a gestão de recursos hídricos integrada

Crédito da Imagem: Acervo Comunitas

A primeira roda de conversa fomentou o debate sobre a necessidade de se implementar um sistema de governança dos recursos hídricos. A ideia é incluir a temática na construção de políticas públicas, em que governos, sociedade, academia e iniciativa privada atuem em conjunto para fortalecer as políticas que foquem na quantidade e qualidade dos recursos hídricos para a atual e futuras gerações.  

Para debater o tema, foram convidados os especialistas tanto da academia quanto de órgãos governamentais, como o secretário de Integração Metropolitana do Rio de Janeiro, Aquiles Barreto, e seu subsecretário, Henrique Silveira; o Secretário de Meio Ambiente de Nova Iguaçu (RJ), Fernando Cid; a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Estela Neves; e o professor da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), Valmir Pedrosa.

Desigualdade hídrica e governança da água

Atualmente, mais de dois bilhões de pessoas vivem em países que estão em situação de estresse hídrico e o Brasil não é exceção, mesmo sendo detentor de 12% da água doce do mundo. E essa situação não se restringe ao semiárido nordestino.  

“A desigualdade hídrica também foi agravada pela pandemia, criando uma conjuntura de tensão mundial”, explicou a professora Estela Neves. “E mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU) tendo declarado, em 2010, a água como um bem básico e universal, indispensável para a sobrevivência humana, a água tem sido negociada em contratos futuros na bolsa de valores de Nova York. Por isso, precisamos fortalecer o Estado, as políticas efetivas para as capacidades estatais e a democracia”, finalizou ela.

Para que essa governança possa funcionar, o professor Valmir Pedrosa defende a necessidade de se criar um Comitê Gestor para promover uma atuação conjunta. “A colaboração é muito importante. É fundamental entender as dificuldades que todas as frentes que cuidam dos recursos hídricos enfrentam para que, juntos, possam colaborar para resolver o problema. [É necessário] gerir as lacunas que são enfrentadas pelas comunidades que vivem ao redor dos rios e também o seu impacto na sociedade, que depende dele”. 

Painel 2 – Como criar estratégias sustentáveis para o uso da água

Crédito da Imagem: Acervo Comunitas

Na segunda roda de debates, foram discutidas estratégias sustentáveis para o uso da água. Tendo em vista que o acesso a água, o saneamento básico e a gestão dos resíduos ainda é muito limitado no cenário global,  é necessário desenvolver ferramentas e metodologias para que o recurso seja melhor aproveitado pela sociedade. 

Foram convidados representantes da academia, órgãos públicos e da iniciativa privada para discutir a questão, como o engenheiro ambiental e professor da Universidade de Columbia, Kartik Chandran; o professor da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Lima, o diretor da concessionária de saneamento básico, Águas do Rio, Sinval Andrade; o especialista de recursos hídricos e saneamento básico da ANA, Sérgio Ayrimoraes; a vice-diretora do Instituto Reúso de Água, Maíra Lima; e a presidente do comitê Baía de Guanabara, Adriana Bocaiúva. 

Reutilização das águas e saneamento básico

Aproximadamente 50% do esgoto no mundo é tratado e apenas 11% reutilizado. Em Israel, 90% do esgoto é tratado. Namíbia faz reúso potável desde 1968. Singapura tem 40% do esgoto tratado, enquanto Chipre e Malta têm 100% do esgoto tratado. No Brasil, a situação é bastante preocupante: apenas 1% do esgoto é tratado

Para mudar essa realidade, é preciso pensar em como implementar iniciativas de reutilização das águas e fortalecimento do sistema de saneamento. A legislação ainda é deficitária no que concerne ao reúso de água potável pela população e o saneamento ainda enfrenta grandes desafios. O tratamento da água é fundamental para evitar, sobretudo, doenças tropicais (como é o caso da dengue, por exemplo).  

Outra questão importante é que, apesar do crescimento populacional estar estabilizado, há uma crescente demanda dos usos da água no Brasil para outros fins (como irrigação), o que pode causar um grande impacto para as pessoas.

O especialista da ANA, Sérgio Ayrimoraes, aponta que uma perspectiva de solução para esse desafio está, justamente, na diversificação da matriz hídrica, com reúso de águas, dessalinização e redução de desperdícios, para controlar as demandas e promover um reequilíbrio com vistas à segurança hídrica. 

“Além disso, é muito importante realizar o controle da poluição e acelerar a promoção do saneamento para a população. Hoje, no Brasil, a maior parte da população vive sem saneamento básico, tendo muito esgoto para pouca água e, mesmo com tecnologia avançada, não se faz milagre com a água. Por isso, é tão importante realizar um planejamento do tratamento de esgotos”, defendeu ele.

Quanto à questão do reúso da água, o tema ainda esbarra em desafios, como a rejeição da população ao produto. A vice-diretora do Instituto de Reúso de Água, Maíra Lima, defende a importância de se minimizar essa aversão à reutilização do líquido. “A água para reúso precisa ser vista como um produto e precisa passar confiança, segurança e transparência, além de passar por um planejamento envolvendo os tomadores de decisão. É importante pensar na finalidade em que a água do reúso será aplicada.”, explicou ela. 

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