Fonte: blog Cidades Sem Fronteiras da Veja.com
O empresário e ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg acaba de lançar um instigante desafio às prefeituras brasileiras: oferecer até 5 milhões de dólares para que coloquem em prática ideias capazes de melhorar a vida dos cidadãos.
Chamada de Mayors Challenge 2016, a iniciativa da Bloomberg Philanthropies foi lançada pela primeira vez em 2013 para premiar os melhores projetos de cidades americanas. No ano seguinte, foi a vez de as concorrentes europeias começarem a participar e, neste ano, as da América Latina.
Mais de 900 cidades em 20 países do continente estão aptas à disputa – o critério é que tenham mais de 100.000 habitantes. No Brasil, são 300 as possíveis candidatas. Aquelas que quiserem participar devem se cadastrar no site da premiação até o dia 15 de março e manifestar seu interesse na disputa.
O processo continua em abril, com a inscrição da proposta a ser implantada. Em junho serão anunciados os finalistas, que participarão de um workshop global no mês seguinte e terão cerca de dois meses para entregar uma versão revista de suas propostas. O anúncio dos vencedores ocorrerá no final do ano, com prêmio em dinheiro para os cinco primeiros colocados. O grande vencedor leva 5 milhões de dólares e há mais quatro prêmios de 1 milhão de dólares cada um para os demais.
Diretrizes nortearão as propostas. A primeira é que se busque resolver uma questão social ou econômica grave, que prejudique o desenvolvimento da cidade. Em segundo lugar, devem tentar aprimorar os serviços de atendimento aos cidadãos. Terceiro, precisam criar eficiência, fazer com que a administração municipal trabalhe mais e de modo mais ágil. Por fim, devem incentivar o envolvimento da população e garantir a transparência administrativa.
Em entrevista ao blog Cidades Sem Fronteiras, James Anderson, diretor de Programas de Inovação de Governo da Bloomberg Philanthropies, falou mais sobre a iniciativa. Leia a seguir:
Prefeitos têm lidado com questões que costumavam ser apenas da alçada do governo federal?
Sem dúvida. Os prefeitos frequentemente são chamados à ação e assumem papéis em áreas que os governos federais falharam. Criam novas soluções com cidadãos e o setor privado e achamos que esse tipo de desenvolvimento urbano é muito interessante. No Mayors Challenge temos 300 cidades brasileiras que podem concorrer e esperamos que muitos prefeitos leiam esta entrevista. Queremos que esses prefeitos nos digam qual o maior problema que têm para resolver e trabalhem em conjunto com os cidadãos para desenvolver soluções.
Como as cidades ganharam tanta importância no cenário mundial?
Há muitas razões, mas a que mais tem a ver conosco é a que líderes locais estão perto do chão. Eles entendem o que está acontecendo, veem os problemas diariamente e podem fazer melhorias com relativa facilidade. Cidades são ambiente propício à inovação e acredito que estão muito bem posicionadas para criar novas soluções que façam diferença do dia a dia de seus habitantes. É disso que o Mayors Challenge trata.
Membros da sociedade podem participar também ou apenas prefeituras?
As ideias precisam ser apresentadas pelos governos locais, mas nossa experiência mostra que as melhores aparecem quando prefeitos e cidadãos se envolvem na formulação, quando empresários e sociedade civil ajudam a desenvolver. Esperamos ver muitos prefeitos trabalhando em conjunto com a população para desenvolver os projetos.
Que tipo de problemas devem ser encontrados na América Latina?
O espectro é enorme. Percebemos que muitas cidades apresentam dificuldade de mobilidade e transporte ou lutam contra a pobreza, buscando novas maneiras de oferecer oportunidades. O Mayor Challenge quer que os prefeitos nos tragam seus problemas e busquem soluções junto à população. Estamos animados para ver o que virá dessa região, uma das mais urbanizadas do mundo.
Há algum tipo de treinamento ou orientação dada aos prefeitos participantes?
Sim. Os vencedores receberão apoio intenso para implementar suas propostas. Vamos aproximar esses prefeitos de especialistas internacionais, acompanhar de perto para identificar problemas e oferecer auxílio onde e quando precisarem. Queremos muito que essas ideias ganhem vida e disso depende que os vencedores sejam auxiliados, além da ajuda em dinheiro.
Qual a avaliação das edições anteriores do Mayors Challenge?
Cidades e prefeitos já participaram da competição nos Estados Unidos e na Europa com resultados muito bons. Eles gostam porque recebem muita exposição internacional, especialmente nas cidades finalistas ou vencedoras. Passam a ser vistos como líderes de locais que estão inovando, e ainda podemos criar oportunidades para que as cidades apoiem umas às outras. Isto é algo especial desta competição: queremos que os participantes sejam colaborativos, pois sabemos o quanto isso pode fortalecer as ideias apresentadas.
É possível evitar corrupção durante o processo de implantação do projeto?
Essa iniciativa exige transparência em cada etapa. Queremos proximidade entre prefeitos, sociedade civil, iniciativa privada e terceiro setor. O processo tem de ser transparente sobre como essas cidades vão ser selecionadas e, uma vez vitoriosas, iremos acompanhá-las bem de perto para evitar qualquer problema desse tipo.