O economista norte-americano e Prêmio Nobel de Economia de 2001, Joseph Stiglitz, participou, na noite desta terça-feira (3/11), de debate promovido pela Comunitas, em São Paulo (SP).
O evento foi realizado pela Comunitas, em parceria com o Fronteiras do Pensamento e apoio do Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC) e do Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP).
Durante quase duas horas, Stiglitz abordou a evolução da desigualdade, em especial de renda e riqueza, mas também de oportunidades e direitos.
“A desigualdade vem sendo cada vez mais discutida. Prova disso é que ela está no centro do debate pré-eleitoral norte americano com os democratas, mas também com republicanos”, afirmou o ex-economista chefe do Banco Mundial e presidente do Conselho de Assessores Econômicos do governo norte-americano na gestão Bill Clinton.
Desigualdade crescente
O economista apresentou gráficos nos quais a renda dos mais ricos em nível internacional cresceu de 1988 a 2008, enquanto a dos mais pobres não conseguiu acompanhar tal ritmo.
Os rendimentos da classe média de países não emergentes, caso da Europa, ficaram estagnados. Stiglitz alertou para o aumento da desigualdade em países desenvolvidos.
“Quase todos os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) têm visto o aumento da desigualdade em últimos 30 anos. A América Latina continha com altos índices de desigualdade, mas tem havido uma redução expressiva”.
Política econômica
Stiglitz destacou a diminuição da desigualdade no Brasil, em nível superior ao da América Latina, ainda entre os anos de 1988 e 2008. Para ele, a busca pela igualdade econômica é uma decisão política de governos e sociedade.
“O aumento da desigualdade é resultado da política econômica adotada, com sua tributação e despesas, por meio do ornamento jurídico, das instituições e mesmo da condução da política monetária”.
O economista criticou a política econômica adotada nos Estados Unidos nos anos 1980, quando houve a diminuição de impostos, sobretudo para os mais ricos, e a desregulamentação de setores econômicos.
“Argumentava-se que o crescimento gerado beneficiaria a todos. Na verdade, a bonança foi para os mais ricos, enquanto os outros 99% da população ficaram estagnados”, afirmou.
Tensão social
No debate, mediado pelo economista Ilan Goldfajn, Joseph Stiglitz apontou risco à democracia e a divisão da sociedade, sobretudo quando presentes componentes étnico-raciais, como consequências maiores da desigualdade de renda e de oportunidades.
“Certamente, vocês têm acompanhado a tensão social existente em Baltimore (EUA). Não há dúvidas de que há um componente econômico contribuindo para o acirramento dos conflitos”.
Contraponto
No encerramento de sua apresentação, Stiglitz também analisou a argumentação do economista francêsThomas Piketty, autor do livro O Capital no Século XXI. O norte-americano discordou da interpretação de que a desigualdade cresce já que o retorno sobre o capital supera o crescimento econômico.
Stiglitz alertou que é necessário observar a diferença entre o aumento da produtividade, que não é acompanhada pela do salário, segundo ele. Assim, a teoria de Piketty não contemplaria todos os pontos necessários.
Perguntado, o economista lembrou ainda que os avanços tecnológicos e a globalização também devem ser considerados nas análises econômicas e sobre desigualdade.
Comunitas
A Comunitas é uma organização da sociedade civil que estimula a participação da iniciativa privada no desenvolvimento do país e lidera o Juntos pelo Desenvolvimento Sustentável, programa de aprimoramento da gestão e dos serviços públicos municipais.