Pesquisa liderada pela organização internacional, Chief Executive for Corporate Purpose (CECP), parceira da Comunitas, usou dados do BISC 2021 para apontar tendências do investimento social corporativo no Brasil e no mundo
A pandemia foi um fenômeno desafiador não só para o Brasil, mas para o mundo. E em um período difícil para todos os setores da sociedade, a resposta contundente das empresas foi fundamental para o enfrentamento da crise. É o que aponta o Global Impact at Scale: 2021 Edition, relatório de intercâmbio global da Chief Executives for Corporate Purpose (CECP), em colaboração com o CECP Global Exchange (GX), divulgado nesta segunda (24).
O estudo destaca as tendências internacionais em estratégias de propósito corporativo, com levantamento realizado com participação de mais de 200 empresas, localizadas em 18 países e regiões, com receita média de US$ 5,7 bilhões. O Brasil é representado pelos dados do BISC 2021 (Benchmarking do Investimento Social Corporativo), realizado anualmente pela Comunitas, que, por sua vez, abrange um universo de 324 empresas e 17 institutos/fundações empresariais.
Dentre os dados apresentados pelo relatório global, chama atenção o fato de que 51% das empresas foram levadas a realizar novas ações sociais durante a pandemia, sendo 65% das mesmas focadas na área da saúde. No Brasil, a tendência foi parecida, visto que o mesmo setor congregou o maior volume de recursos, apresentando um crescimento de 41 p.p. em relação a 2019. Merece destaque, também, o aumento de 4 p.p. na área da assistência social, o que representa uma alocação de recursos superior a R$ 200 milhões.
A resposta brasileira à pandemia fez com que o setor empresarial destinasse o montante inédito de R$ 5 bilhões em 2020 – praticamente o dobro dos recursos destinados ao investimento social em 2019, e foi um destaque em toda a série histórica do BISC. Deste volume, 47% foi alocado exclusivamente em ações de enfrentamento à Covid-19. No comparativo com o benchmarking internacional, as empresas brasileiras destinaram 0,91% do seu lucro bruto para os investimentos sociais, retomando a paridade com o padrão norte-americano, que destinou 1% do lucro bruto para o mesmo fim em 2020.
“O perfil de atuação do investimento social sofreu inúmeras mudanças nesse período de pandemia: grupos da população que passaram a se destacar como beneficiários, novas áreas de atuação prioritárias, ampliação dos repasses às organizações da sociedade civil e crescimento do alinhamento às políticas públicas. As dificuldades impostas pela crise sanitária tiraram todos da zona de conforto e moveram a sociedade em torno de um pacto coletivo pela solução. Vimos o aprofundamento da colaboração em todos os sentidos, entre as empresas de setores similares ou diferentes, com as organizações sociais e, sobretudo, com os governos”, explica Patricia Loyola, Diretora de Gestão e Investimento Social da Comunitas.
Cerca de 36% das empresas globais preveem um aumento significativo no orçamento e recursos que serão direcionados para realização de investimento social nos próximos dois anos. Já no Brasil, o percentual de empresas que pretendem fazer o mesmo é maior: 42% da Rede BISC mostra otimismo e espera aumentar os valores investidos atualmente na área social no biênio de 2022/2023.
Com relação aos fatores ESG (Environmental, Social and Corporate Governance, com tradução para Governança Ambiental e Social Corporativa), a tendência observada mundialmente é que 75% das empresas pretendem adotar os ESG até 2025, incorporando os fatores em seus objetivos de negócios, estratégias, relatórios e tarefas diárias, de forma transversal às áreas das organizações. No Brasil, o movimento caminha na mesma direção, com 73% da Rede BISC indicando já ter incorporado os princípios e padrões ESG em suas estratégias de atuação. Ainda assim, vale ressaltar que as empresas, não só os parceiros do BISC, têm implementado, ao seu tempo, os padrões ESG – por isso não surpreende que em 2021, 27% das empresas e institutos/fundações, ainda estejam em processo de incorporação da agenda em nível estratégico. Para além, pode-se afirmar que o fatores ESG, mesmo em diferentes estágios, são unanimidade na Rede BISC.
Incorporar a agenda ESG não é apenas uma estratégia de negócio, mas também uma forma de captar e reter novos talentos. 69% das empresas que responderam ao Global Impact at Scale 2021 afirmaram que, ao divulgarem seus relatórios com estratégias de ESG, foram capazes de atrair uma geração de funcionários mais consciente e empoderada. No Brasil, a tendência também é sentida. Solange Ribeiro, diretora-adjunta da gigante do setor energético, a Neoenergia, declarou, durante o Encontro de Líderes, realizado em outubro pela Comunitas, que a questão da sustentabilidade já é uma demanda da sociedade como um todo. “Essa questão do clima, essa questão de desenvolvimento e sustentabilidade, não é mais opcional. As empresas perceberam que, se a gente não mudar, a gente não vai mais estar aqui daqui a 30 anos, não vai atrair as melhores cabeças. As empresas, além de fazerem, tem que influenciar os governos também. Nós temos que fazer todos juntos, privado, público e social, e os jovens estão vindo para essa discussão. Os jovens estão cobrando, estão se colocando. A palavra de ordem é: temos que fazer juntos”.
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