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8 aprendizados da formação “Mudanças Climáticas e Energia”

Descubra os principais aprendizados da formação “Mudanças Climáticas e Energia”, que capacitou 22 líderes públicos de todo o país para implementarem políticas públicas voltadas para a transição energética e a promoção de cidades mais sustentáveis

No último mês, a Comunitas finalizou a formação “Mudanças Climáticas e Energia”. O projeto, que foi realizado a partir de uma parceria entre a organização, o Climate Hub | Rio e o Columbia Global Centers | Rio de Janeiro, braço da Universidade de Columbia no Brasil, teve início em janeiro e selecionou 34 líderes públicos de todo o país

A formação abordou temas essenciais para fortalecer a atuação dos participantes em áreas fundamentais, como mudanças climáticas, aproveitamento energético, transição energética e políticas públicas para investimento em descarbonização energética e contou com renomados professores, cedidos pelo Columbia Global Centers | Rio de Janeiro: Sérgio Besserman, presidente do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro; Roberto Cunha, fundador da EnClim; Renata Albuquerque Ribeiro, coordenadora do programa de Energia e Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) e Martin Dietrich Brauch, pesquisador principal do Columbia Center on Sustainable Investment (CCSI). 

A seguir, confira os principais aprendizados da formação!

1 – Urgência da adaptação climática em ambientes urbanos

No Brasil, a falta de conhecimento sobre como lidar com a emergência climática é um grande desafio, especialmente em pequenas e médias cidades. Um estudo do governo federal revelou que mais de 1.900 municípios brasileiros são mais suscetíveis a desastres relacionados às mudanças climáticas, incluindo deslizamentos, enxurradas e inundações. 

Além disso, é estimado que 10,6 milhões de hectares relacionados à agricultura sejam perdidos até 2030, o que acarretará no deslocamento de diversas culturas, e um risco para o aumento da vulnerabilidade alimentar da população.

“Daqui a 15, 20 anos, o mundo não vai lembrar da guerra e dos conflitos atuais. O ano de 2023 será conhecido como o ano em que descobrimos a extraordinária gravidade da crise climática”, declarou Sérgio Besserman, professor do primeiro módulo da formação.

2 – Acompanhamento dos pontos de não-retorno da crise climática

Os pontos de inflexão climática, ou tipping points, são momentos críticos em que ultrapassar um determinado limite leva a mudanças climáticas irreversíveis e imprevisíveis. Nesse sentido, é necessário realizar ações urgentes e coordenadas para evitar piores ameaças à humanidade.

De acordo com  Sérgio Besserman, existem cinco pontos de inflexão especialmente preocupantes no cenário atual:

Amazônia: O desmatamento desenfreado pode transformar a floresta em savana e cerradão, liberando grande quantidade de carbono na atmosfera por milhares de anos. O futuro da Amazônia impacta o clima global;

Jatos de Ventos: O enfraquecimento dos jatos de ventos do continente norte-americano altera o clima do planeta, afetando o equilíbrio climático global;

Bancos de Gelo: O aquecimento e lubrificação do solo congelado podem levar ao colapso dos bancos de gelo da Groenlândia e da Antártida, aumentando o nível do mar e ameaçando populações costeiras em todo o mundo. A elevação do nível do mar pode ser superior ao previsto;

Solo Congelado da Sibéria: O aquecimento do solo congelado deve liberar toneladas de carbono (CO2) e metano (CH4) na atmosfera, uma quantidade cinco vezes maior do que as emissões da humanidade desde a era industrial;

Correntes Oceânicas: Pesquisas indicam que esse ponto de inflexão já foi rompido, com as correntes oceânicas em todos os oceanos do planeta sendo modificadas. Isso gera mudanças drásticas nas condições para a vida orgânica em cada metro quadrado do planeta.

Derretimento do permafrost, que pode liberar trilhões de toneladas de carbono na atmosfera. Crédito da Imagem: BBC

3 – Redução dos custos da transição energética

O custo da energia derivada de combustíveis fósseis ainda é mais baixo do que a da energia limpa. Para acelerar a transição energética, é fundamental reduzir o custo da produção de energias renováveis, o que pode ser feito através de diversas medidas, como reformas fiscais e tributárias, legislação mais severa e investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

Embora a matriz energética do Brasil seja essencialmente limpa, visto que cerca de 60% da produção energética do país vem das hidrelétricas, de acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), não é renovável. Em um cenário de escassez de chuva, o país pode mergulhar em uma situação de insegurança energética – prejudicando vários setores da economia.  

Apesar disso, o país está bem posicionado para liderar a corrida global para a transição energética. O Brasil possui um enorme potencial em fontes de energias renováveis, destacando-se, por exemplo, como o segundo maior produtor mundial de energia solar, conforme dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).

4 – Estabelecimento de um mercado de carbono como alternativa sustentável

A emissão de metano, que é um gás de efeito estufa muito mais potente e pesado do que o carbono, contribui significativamente para o aquecimento global. Isso porque, em um período de 100 anos, o gás pode aquecer o planeta entre 28 e 34 vezes mais que o CO2.  

Nesse contexto, é possível usar o biometano, produzido a partir de resíduos orgânicos, como uma alternativa ao gás natural na geração de energia. Além disso, a comercialização separada do metano e do carbono no mercado de carbono pode incentivar a redução das emissões de CH, o que pode ser alcançado por meio da criação de um mercado específico ou da taxação das próprias emissões de CH.

Painéis fotovoltaicos para produção de energia solar no Piauí. Crédito da Imagem: Governo do Piauí

5 – Ampliação do uso dos biocombustíveis

Em um contexto global de busca por fontes de energia mais sustentáveis, os biocombustíveis emergem como uma alternativa promissora, capaz de reduzir significativamente a pegada de carbono e contribuir com a mitigação dos impactos das mudanças climáticas. 

Provenientes da biomassa (restos de matéria orgânica de origem vegetal ou animal usada com a finalidade de produzir energia), os biocombustíveis representam uma oportunidade lucrativa e ambientalmente sustentável para o Brasil”, de acordo com Roberto Cunha, professor do segundo módulo da formação “Mudanças Climáticas e Energia”. 

O Brasil tem caminhado para ampliar o consumo do combustível com o apoio da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), que busca promover sua expansão na matriz energética do país. A iniciativa também estabelece metas anuais de descarbonização nacionais ao incentivar a diminuição do uso de combustíveis fósseis.

6 – Importância de uma transição justa

É necessário levar em consideração os aspectos socioeconômicos envolvidos na transição energética. Os desafios e as disparidades na distribuição de energia em escala global ressaltam a necessidade de uma transição justa, que leve em conta os impactos nas populações mais vulneráveis

“A população mais vulnerável não deve arcar com os custos financeiros e nem sofrer as consequências negativas do processo de transição. É crucial incluir ativamente as pessoas afetadas nas arenas de decisão, a exemplo das COPs”, defendeu Renata Ribeiro, professora do terceiro módulo da trilha. 

Ademais, para garantir uma transição verdadeiramente justa, é essencial realizar investimentos em infraestrutura, capacitação de pessoal e tecnologia, a fim de assegurar a proteção dos trabalhadores e comunidades mais vulneráveis. Isso pode ser alcançado por meio de investimentos em qualificação profissional e programas de apoio social, permitindo que essas pessoas se adaptem às mudanças.

7 – Municípios devem elaborar planos de descarbonização

A maior parte da população brasileira vive em cidades. Assim, os municípios se tornam fundamentais na discussão sobre as mudanças climáticas. Porém, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, 3.679 municípios brasileiros (66%) não estão preparados para enfrentar as mudanças climáticas, o que os coloca em uma posição de suscetibilidade aos efeitos das transformações do clima.

Por isso, é necessário que as autoridades municipais elaborem planos de descarbonização com metas de curto, médio e longo prazo. As ações devem incluir: inventário de riscos detalhado, mapeamento de grupos marginalizados, estudos técnicos para implementação das medidas e instrumentos de financiamento para concretização da neutralização do carbono localmente. 

8 – Investimento em infraestrutura local e incentivo à mobilidade urbana ambientalmente amigáveis

Os governos municipais devem utilizar o poder regulatório para promover a descarbonização energética urbana, estabelecendo normas para eficiência energética, incentivando a eletrificação de frotas de veículos e criando zonas livres de emissões. 

É preciso afastar a ideia que os municípios estão de mãos atadas para conseguir atuar diante da descarbonização energética”, declarou o professor do quarto e último módulo da trilha, Martin Dietrich Brauch.

Além disso, é necessário que os municípios desenhem estratégias e estabeleçam metas de curto, médio e longo prazos para a redução de suas emissões de GEE, como a criação de inventários de riscos, a identificação de agentes envolvidos e consultas públicas para garantir legitimidade e eficácia das ações adotadas.

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